segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Quente, polêmico e necessário

Abro espaço aqui nas postagens parisienses para um comunicado importante, na verdade, o lançamento de um livro do qual tomei conhecimento aqui. Trata-se de um novo empreendimento da Bia Labate, acompanhada de outros ilustres estudiosos de substâncias psicoativas.

Pra quem acompanha a trajetória da Bia, este acho já é o quinto livro que ela lança; destes, três foram em parceria com outros co-organizadores/autores, e um é de autoria dela mesma, sua dissertação de mestrado. Infelizmente não tenho o nome certo de todos os livros aqui, e vou citar de memória. O primeiro, de 2002 (e segunda edição em 2004), organizado junto com o Wladimir Araújo, é um clássico (no qual tenho um artigo publicado em parceria com Osmildo Kuntanawa): "O uso ritual da ayahuasca". Depois veio "A reinvenção do uso da ayahuasca nos centros urbanos" (de autoria da Bia). Algum tempo depois, "O uso ritual das plantas de poder", organizado junto com a Sandra Goulart. Depois um "balanço bibliográfico" sobre religiões ayahuasqueiras, com a Isabel Santana de Rose (a Bel) e o Rafael Guimarães dos Santos. E, finalmente, chegamos a este, que acaba de ser lançado:

"Drogas e cultura: novas perspectivas" (organizado pela Bia, Sandra, Maurício Fiore, Edward MacRae e Henrique Carneiro), tem orelha do antropólogo e especialista em segurança pública Luis Eduardo Soares (aquele que denunciou a "banda podre" da polícia carioca e foi defenestrado do cargo que então ocupava na Secretaria de Segurança Pública), e ainda uma apresentação de autoria do ex e do atual ministro da Cultura, respectivamente Gilberto Gil e Juca Ferreira. Não li o livro, claro. O tema é quente, polêmico e necessário. Então, estou certa, o livro é bem-vindo. Li e gostei especialmente da orelha do livro, do Luis Eduardo Soares, e reproduzo aqui um trecho que nos sintoniza de uma maneira muito positiva com o tema e a coragem da iniciativa que resultou no livro recém-lançado.

"Os ensaios aqui reunidos nos ensinam que as drogas, as dinâmicas de sua produção e os circuitos de sua circulação semântica, conceitual-científica, econômica, social, religiosa, política, estética, psicológica, ideológica e simbólica constituem fenômenos complexos, multidimensionais, que exigem abordagens transdisciplinares. Em uma palavra, as drogas não existem; são invenções datadas, cujos significados variam conforme os contextos culturais, seus repertórios específicos, seus vocabulários particulares. Drogas são ministradas por médicos ou xamãs; são objeto de fruição individual ou coletiva; servem para excluir, excomungar, reprimir, prender ou violentar os que as consomem ou os que não as consomem, conforme o caso; são sacralizadas em rituais místicos; são institucionalizadas em celebrações familiares e sociais; são objeto de consumo; têm valor comercial; são alvo de legislações; saberes; terapias. Elas são criadas por dispositivos prático-discursivos, historicamente constituídos, os quais acionam regras morais, categorias de acusação, exercícios de poder, estratégias econômicas, padrões de fruição, linguagens que organizam a consciência e a sensibilidade, orientações valorativas e experiências de sociabilidade.

Abrindo-se a esta quase ilimitada pluralidade de apropriações, as drogas carregam consigo um potencial extraordinariamente rico para quem se disponha a pensar as sociedades. Talvez por essa razão represente risco, perigo, ameaça e incerteza. Fonte de prazer e de morte, as drogas nos interpelam e, pela mediação do presente livro, exigem que as incluamos no centro de nossa agenda política e intelectual."

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