sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Pra quebrar a cabeça

Não acreditei no que li hoje: o diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) de Roraima, o sr. Eugênio Tavares, afirmando que a liberação da exploração de minério em Terras Indígenas deveria ser aprovada pelo Congresso Nacional (há um projeto tramitando) porque a economia local se multiplicaria por dez. Logo a seguir, leio notícias do Forum Social Mundial: o bispo da diocese do Xingu, dom Erwin Krautler, alarmado com a rapidez com que a floresta está sendo posta abaixo, em especial no Pará, mas não só. Testemunha que no oeste do Pará há hoje municípios onde a cobertura vegetal não passa de 10% - os outros 90% não existem mais. E, no mesmo Forum, numa mesa-redonda, Marina Silva fala na necessidade de um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia, que seja capaz de preservar a floresta. E, pra finalizar, o Lula se equilibra no fio da navalha "compensando" o estado de Roraima com 6 milhões de ha de terras públicas (que correspondem a 25% da área do estado). Diz Lula que ao invés de tensão por conflito, que ver tensão de produção, tensão produtiva (acho que ele está é com tesão produtivo!).

Um quebra-cabeça desesperador, e que não fecha, cheio de arestas e pontas. Terras Indígenas são consideradas como prejuízo, a não ser que a exploração de minário seja nelas permitida, intenção esta que faz parte de um modelo de desenvolvimento que não se cansa de botar abaixo a floresta, apesar da grita ambiental mundial, dos apelos do bispo do Xingu e da teima da Marina. Que fazer? Que fazer? A primeira coisa que me veio à mente foi mandar prender o sr. Eugênio Tavares!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A outra crise

Crise financeira, crise económica, crise política, crise religiosa, crise ambiental, crise energética, se não as enumerei a todas, creio ter enunciado as principais. Faltou uma, principalíssima em minha opinião. Refiro-me à crise moral que arrasa o mundo e dela me permitirei dar alguns exemplos. Crise moral é a que está padecendo o governo israelita, doutra maneira não seria possível entender a crueldade do seu procedimento em Gaza, crise moral é a que vem infectando as mentes dos governantes ucranianos e russos condenando, sem remorsos, meio continente a morrer de frio, crise moral é a da União Europeia, incapaz de elaborar e pôr em acção uma política externa coerente e fiel a uns quantos princípios éticos básicos, crise moral é a que sofrem as pessoas que se aproveitaram dos benefícios corruptores de um capitalismo delinquente e agora se queixam de um desastre que deveriam ter previsto. São apenas alguns exemplos. Sei muito bem que falar de moral e moralidade nos tempos que correm é prestar-se à irrisão dos cínicos, dos oportunistas e dos simplesmente espertos. Mas o que disse está dito, certo de que estas palavras algum fundamento hão-de ter. Meta cada um a mão na consciência e diga o que lá encontrou.

Publicado em O Caderno de Saramago (uma preciosidade que vale ter nos Favoritos)

Santo Guerreiro


Sebastião, depois santificado, nasceu no século III da era cristã. Foi militar no tempo dos Império Romano, mas, conta-se, sempre manteve-se fiel ao cristianismo. Foi por isso condenado a morrer flechado. Sobreviveu, seu corpo foi resgatado quase sem vida e curado. Mas ele, como mártir que é, acabou novamente condenado e desta vez foi açoitado até morrer. Mas, interessante, a imagem que ficou foi a da morte pelas flechas. Por que será? Tenho um amigo no Rio, o Perfeito, que, soube, num 20 de janeiro - dia do Santo - declarou no microfone do Circo Voador que São Sebastião era o padroeiro dos acumpunturistas!

Para além da criativa e bem-humorada especulação do Perfeito, outros significados nas flechas certamente podem ser encontrados. Neste mundo, flechas são o que não falta, nem tanto as materiais, mas a flecha da língua, da palavra, das intencionalidades. É preciso estar atento. Ou até de corpo fechado, dizem alguns. Mas tem também a flecha do Cupido, amorosa.

De todo jeito, São Sebastião é conhecido como guerreiro, como combatente, ensinou-me minha amiga Débora, das guerras, das pestes e pragas que nos assolam. Ele mexe com coisas sérias, e que estão hoje aí nas manchetes dos jornais, nos fronts e trincheiras, e na atmosfera astral do nosso planeta. Só pensar em Gaza...

Salve o guerreiro São Sebastião! Um bom aliado para esses tempos.

Festejemos portanto o seu dia, lembrando ainda do sincretismo com Oxóssi, orixás das matas, energia da floresta. Dia de terreiro virar aldeia, dos caboclos e caboclas virem dançar, dia de saravá!

domingo, 11 de janeiro de 2009

Domingo no centro

Domingo passado estava em casa, depois de ter passado a tarde trabalhando, aquele entardecer que se anunciava convidativo para parar tudo e ir apreciá-lo, aí resolvi ir até o centro, ver um pouco da cidade, mais especialmente o rio Acre.

Chegando lá vi que as águas subiram mesmo, o rio está mais largo, denso, volumoso, bonito de se ver. Fiquei no "pinguelão" apreciando a paisagem, vendo o povo pra lá e pra cá. E como tinha gente! A passarela estava movimentada, as mesas em frente ao mercado velho-novo todas ocupadas (o que frustrou meus planos de comer uma tapioca com um suco olhando o rio). Resolvi então dar uma volta, caminhar pelas imediações.

Subindo a praça dos Povos da Floresta, topei com um aluno meu da Ufac, que me cumprimentou: - "Passeando, professora?". Pois é. Aí continuou com uma frase que não me recordo para reproduzir aqui, mas que dizia que o governo precisava de todos aqueles enfeites, aquela boniteza, pra se manter, se legitimar. Falava, entendi, do Palácio iluminado. Havia um tom depreciativo, ou irônico, no comentário. Não disse nada e nos despedimos. Bom, sei lá. Quer dizer, sei uma coisa: o povo acreano (acriano?) gosta de ver sua cidade bonita e usufruir dela. Isso é um mérito do povo, que tem auto-estima, e do governo também, que capta e estimula este amor por si próprio.

Mas voltando ao passeio, no Palácio, as escadarias estavam cheias, pessoas, moradores da cidade, tiravam fotos de si em frente ao monumento, talvez alguns turistas também, crianças corriam nas escadarias e laterais, namorados passeavam. Quando anoiteceu, o cenário ficou meio psicodélico talvez. Gostei desta versão noturna-viajante-brilhante do palácio.

Ainda apreciei aqueles enfeites natalinos nas árvores, de muito bom gosto. São os mesmos do ano anterior. Valeu a reciclagem. Dei uma olhada na nova Biblioteca Pública (que desavisadamente não foi fotografada), entrei pra ver se tinha um filme, mas a sessão já começara. Olhei para a Praça Plácido de Castro, cheia, cheia. O tacacá correndo solto. Como não sou muito fã deste prato tradicional (falha minha), voltei pra casa com fome. É que o Café do Theatro estava fechado.

A Estrela do Oriente (Dia de Reis 2)

A estrela do Oriente
Foi Deus que me mostrou
Eu estou em pé firmado
Aqui aonde estou

A estrela do Oriente
Os três Reis acompanhou
É o meu Mestre Império
Foi Ele que me entregou

O meu Mestre me disse
Querem tirar o meu valor
Mas a verdade divina
Poucos foi que acompanhou

(Sebastião Mota de Melo)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Senhores Reis

Os Senhores Reis
Do Oriente partiram
Seguiram a estrela que brilhava insistentemente
Chamando-os, convocando-os - havia uma missão a cumprir

Obedientes como são os sábios, não tardaram a alcançar seu objetivo
E postar-se aos pés do menino

A ele presentearam com nossas melhores esperanças
E a ele também rogaram, conta a história, que tivesse dó de nós todos

Esses mensageiros merecem nossos vivas
Foram os primeiros a chegar
Lembrando logo o menino
Que dele somos todos filhos

José Aparecido