sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Impressões da diversidade de Paris

Paris é uma cidade com contrastes.

O que primeiro me chamou atenção foi a diversidade de gente, diversidade étnica. Quando estive aqui, em 1990, não lembro disso como algo que me tenha me atraído.

Em Londres sim, lembro bem, fiquei totalmente fascinada pelo metro: o vagão, a cada estação, sofria uma transformação de composição étnica, étaria, sociocultural, que eu só podia pensar que alguém já teria tido a idéia de fazer um ensaio fotográfico sobre aquilo. Punks, senhoras idosas, negros, indianos, brancos e por aí vai conviviam naqueles vagões. Mas, de Paris, não guardei esta memória. Agora não. Como ando bastante de metro e trem (RER), o fluxo de pessoas e diversidades parece que fica mais evidente. Além disso, esses meios de transporte são populares (no sentido de que todo mundo usa), portanto uma bela vitrine da população parisiense.

Muitos negros, muitos. Gerações nascidas aqui, filhas ou netas de migrantes. Mas acho que tem migrantes também. Muito frequentemente você está no vagão e entra uma ou mais dessas rainhas africanas, com aqueles panos coloridos, amarrados no corpo e no cabelo, brincos, penteados, uma coisa! Dá vontade, sinceramente, de ir lá entrevistar, fotografar. Então tem este povo à caráter, digamos. E tem também os "à paisana", mas com um estilo próprio, em especial as mulheres, com seus penteados, tranças e adereços. Têm corpos diferentes também das francesas "tradicionais" (ou "originais", argh, não sei que termo usar!). Tem cada mulherão. Homens também, bonitos, de todo jeito. Não senti algo como um preconceito racial no ar, mas não sei como é ser um filho ou filha de migrantes já nascido(a) na França, quais as oportunidades, como é isso. Um senhor comentou comigo que estas pessoas não teriam o sentimento de nacionalidade francesa, principalmente aquelas que não tem muito estudo e não conseguem trabalhar. Não sei.

Outra turma que chama atenção aqui são os mulçumanos. Mulheres com a cabeça coberta à moda tradicional - há muitas! Vi uma só toda de preto e com a cabeça coberta - aliás, muito bonita. Este universo islâmico para mim é misterioso. Fui então no Instituto do Mundo Árabe, um baita prédio novo, com um sistema de iluminação todo diferente e engenhoso, às margens do Sena (rive gauche); fui lá atrás de informação. Saí de lá frustrada, devo confessar. Tem uma exposição permanente meio tipo história oficial, com tesouros arqueológicos que comprovam a antiguidade da cultura árabe e seus feitos magníficos (como de fato o são). Mas perguntas como: o que é o islamismo? Como surgiu? O que prega? Bom, entrei e saí da exposição com as mesmas dúvidas. Na livraria que tem lá comprei um livrinho básico sobre a história do islamismo.

Mas voltando ao metro, muitas vezes tive a impressão de que eu poderia estar com aquelas pessoas no Rio ou em São Paulo. Gente diversa, de posses econômicas também diversas. Sempre achei que ia chegar em Paris e as pessoas estariam todas vestidas de um mesmo jeito, ou com um mesmo estilo, aquela coisa parisiense, sei lá. "Que roupa que eu levo???" Imagem pré-concebida, induzida pela mídia, idéia boba, enfim. Que nada. Aqui tem de tudo, gente vestida de todo jeito. Desde aquelas deusas africanas que eu falei, as mulheres mulçumanas com seus panos, as parisienses brancas com suas sapatilhas (é o sapato da cidade, incrível!), mulheres e homens super bem vestidos, quer dizer, caríssimamente vestidos (um luxo!), e gente como a gente, vestida de todo jeito, com "roupa normal", jeans, camiseta. Então, tem hora que você pode estar em qualquer lugar que não necessariamente Paris. Isto debaixo da terra, porque quando você vem a superfície e vê a cidade, bem, aí você não tem dúvida que está em Paris.

Outra coisa que me chama atenção desde que cheguei: gente pedindo dinheiro. Muita gente pedindo dinheiro. A Edilene me disse que em Portugal e Espanha, onde esteve este ano, viu mais do que aqui. Aí em Rio Branco não estou acostumada com isso, é pouca gente que se encontra pedindo na rua; no Rio de Janeiro, bom, aí tem de todo jeito e em abundância. Mas aqui me surpreendi. Você encontra gente na rua, que se identifica como desempregado. Você está no metro e de repente entra alguém e começa a contar sua história e falar de sua situação; pode ser um homem ou mulher, que depois passa pelo vagão vendo se recebe alguma doação. Tem outros mais criativos.
Hoje, por exemplo, num vagão, havia três jovens com um sonzão daqueles portáteis tocando o maior som alto e eles dançavam e cantavam. Legal. Tem músicos (violinistas, flautistas, sanfoneiros) que entram no vagão e tocam - gosto desses, sempre dão um fundo musical agradável à viagem. Até teatro de bonecos tem!

Hoje vi uma situação triste: no metro, num canto, uma senhora cantava uma música na sua língua (Europa oriental, acho). Só. E aos pés dela um copinho para as pessoas fazerem suas contribuições. É, a exclusão globalizou, invade e transborda. E cada dá o seu jeito. A Edilene me contou que ficou chocada quando viu mulheres mulçumanas pedindo dinheiro numa postura que, a seu ver, era uma imitação de Nossa Senhora, um apelo ou manipulação da piedade cristã.

Mas um contraste ainda não encontrei em Paris: a feiura da cidade.

Um comentário:

Natalia Jung disse...

hahaha, me identifiquei muito com este texto quando vc comenta que dá vontade de entrevistar umas figuras exóticas. Em Londres eu também tinha vontade de chamar a mulher do cabelo escultural e roupa multicolorida pra tomar um chá e perguntar de onde veio, quanto tempo levou pra ajeitar aquele cabelo...rsrsrs