quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Saramago II

Falamos muito ao longo desses últimos anos dos direitos humanos; simplesmente deixamos de falar de uma coisa muito simples, que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação ao outro, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro da existência de uma espécie que se diz racional.

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O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas covardias do quotidiano, tudo isso contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses.

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Temos que acreditar nalguma coisa e, sobretudo, temos que ter um sentimento de responsabilidade coletiva, segundo o qual cada um de nós será responsável por todos os outros.

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Estou convencido de que é preciso continuar a dizer não, mesmo que se trate de uma voz pregando no deserto.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Saramago I

"Penso que estamos cegos,
cegos que vêem.
Cegos que,
vendo,
não vêem."

"Se podes olhar, vê.
Se podes ver, repara."

sábado, 25 de dezembro de 2010

Feliz Natal!

Dia 25 de dezembro de 2010. Após uma noite de festa, canto e bailado no Alto Santo, na companhia da irmandade sob os cuidados da Madrinha e cantando o hinário do Padrinho, nos reunimos para um almoço natalino na casa da Vera e do Luis - este casal tudo de bom aí em cima.

Na casa também mora o Bernardo (à direita na foto), filho da Vera e do Luis, que teve a companhia do Júnior (o do meio), enteado da Silvana, mãe zelosa na foto olhando a farra da dupla. Estávamos todos na sobremesa, um petit gateaux feito na hora pela Bebel, também filha da Vera, e sorvete, além da rabanada e uma torta de nozes. E café, que ninguém é de ferro depois de uma noite pouco dormida.

Aí somos Ana e eu, amiga querida deste 2010, cheio de aventuras e fortes vivências para ambas. Ficamos com saudades do Caio, filho da Ana que está passando as festas de fim de ano em São Paulo. Mas soubemos que ele está muito feliz e com agenda lotada de programas!

Muita conversa boa e divertida, gente amiga reunida. Gabriel (à esquerda), Marcelo (centro) e Luis, o dono da casa.

Em frente a eles, Bia (esposa do Marcelo), Caetano (filho mais velho da Vera) e Keilah, a Diniz, pra quem não conhece. Rolaram, por exemplo, lembranças do campeonato brasileiro, quando o Fluminense, que não é santo, obrou milagres, como se diz, salvando-se gloriosamente de um rebaixamento dado como certo...

E aí estão a Bia e a Keilah, que é mãe do Gabriel, que veio de Brasília especialmente para o Natal e para o aniversário dela, ocorrido no último dia 22 e comemorado numa animada festa que abriu os salões da varanda da casa nova da Keilah com um baile em alto estilo, reunindo a dileta sociedade do Irineu Serra!

E pra finalizar, uma foto iluminada da nossa Bebel, que preparou o petit gateaux. Ela acaba de voltar de uma temporada nos States, na casa da Cila e do Marcus, e voltou cheia de novidades: tá mais linda do que já era, descobriu a maquiagem (de leve) e incrementou seu astral com a experiência toda. Um axé, esta Bebel!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Nasce uma Estrela

Vera Olinda

Nascer e morrer são complementariedade e mistérios. O bom é que os mistérios não são desvendados e assim não quebram os encantos da vida. Acredito que os seres encantados, os seres iluminados, nos sustentam na terra. Acho que eles nos mantêm ligados a natureza. São muitos os bons seres iluminados em órbita e, ontem, dia 20 de dezembro de 2010, ganhamos em outro plano a força da proteção do Sr Raimundo Luiz Yawanawa, que fez sua passagem.

Ficamos todos tristes, ficamos com saudade. Mas confortados pela força transformada do “Velho Raimundo”, como era chamado com carinho. Já sabemos de sua trajetória como liderança yawanawa, que lutou pela sua terra, que organizou seu povo para este mundo diverso. Junto com a luta pela terra o “Velho Raimundo” era um homem muito sabido. Sabia muito dos conhecimentos indígenas milenares. Sabia dar conselhos, sabia e gostava de ensinar, sabia ouvir. Outra característica marcante era o encanto absoluto com sua risada altíssima, inconfundível, que muitos de seus muitos filhos herdaram. Alegre, muito alegre. Como um membro nato da família lingüística pano, sua etiqueta de bem receber era absoluta: convidava, oferecia, trocava, informava, encantava o visitante e adorava filosofar. Incrível sua capacidade de entender e explicar as coisas, o mundo, os fatos dos mundos indígena e não indígena.

Bravamente segurou firme um tratamento de quimioterapia em Rio Branco, mas foi em Tarauacá, mais perto de sua terra indígena e de seus parentes, que escolheu virar um ser iluminado. Na verdade ele fez uma parada em Tarauacá, no caminho de volta para sua aldeia atual, chamada Mutum. Ontem, subiu o rio numa canoa, passou pelo Mutum e vai ficar todo o tempo no Kaxinawa, o primeiro lugar do povo Yawanawa, o lugar atual dos sábios e dos seres iluminados.

Um pouco antes de ir por definitivo conversou com Julia, Tashka, Mariazinha, Sales e outros familiares e pediu que segurassem o que ele começou, pediu que cuidassem da terra indígena, que não voltassem atrás, que seguissem seus ensinamentos. Eles disseram que assim será.

O Velho Raimundo Luiz foi uma escola diferenciada para nós todos. Agora virou ser iluminado, ou nasceu estrela, mas sua luz continuará brilhando em florestas e cidades para fazer deste, um mundo mais pró índio.