sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Carta ao Amilton

Amilton, meu caro amigo,

Lembrei-me de você hoje e quis escrever esta carta; e depois quis ainda que ela pudesse estar aqui, neste diário de bordo que tenho feito. Escrevi, pois, e postei a carta, contando um pouco do meu dia e mais um pouquinho de Paris.

Espero que tudo esteja bem contigo, nos seus afazeres profissionais e também em casa, com Angélica e a turma animada e turbulenta que vive junto com vocês. Lembranças a todos.

Hoje, contrariando a fama do calor europeu, fez um dia frio, isto é, relativamente frio, um ventinho meio metido a gelado e muitas nuvens no céu. Mas o sol não se ausentou de todo, e ao meio-dia, quando fui comer meu sanduíche e frutas no Jardim de Luxemburgo - que já é para mim um dos melhores lugares aqui de Paris -, pude esquentar-me e curtir aquela coisa boa que é o calor do sol numa temperatura amena. Barriga cheia, fui então passear, andar pelas ruas, outro grande programa por aqui.
Logo topei com rue des Ecoles, onde fica a Sorbonne, que envio pra você nesta foto:
Em frente a ela, da onde justamente tirei a foto, tem uma livraria (claro!), daquelas boas, cheias de ciências humanas, filosofia e literatura. Entrei, fiquei olhando, olhando, e saí, adivinha, com dois livros do Deleuze. Olha que eu estou ficando metida, pois sou uma novata no autor, tateio pressentindo o "encontro", mas não resisti: adquiri um chamado simplesmente "Foucault", e o outro um diálogo dele com Raymond Aron. Ficou com água na boca? Pois é, são dois livros de tamanho bem pequeno, mas de forte conteúdo e um duplo desafio: entender não só as idéias, como o francês! O que te parece? Topas? Estudos filosófico-antropológicos bilíngues!

No mais, hoje andei muito. Passeei às margens do Sena, só não sei se na rive gauche ou droite... Também senti falta de conversar. Em vários momentos senti vontade de poder me comunicar, bater um papo, ter alguém conhecido junto. Acabei matando relativamente esta vontade conversando com pessoas na rua, tais como uma mulher chamada Maria, da Bósnia, que veio para Paris com toda família para buscar emprego. Segundo ela, no seu país não conseguiam trabalho. E aqui? Parece que a coisa também não está boa. É ela que está na foto a seguir. Sofrida. Há muitas pessoas pela rua pedindo dinheiro, estou juntando fotos e impressões para mais para frente falar disso - uma surpresa para mim.

Conversei também com jovens voluntários da WWF daqui, que estavam em várias esquinas do Boulevard St. Michel abordando pessoas, explicando o trabalho da instituição e acho que arrebanhando novos sócios. Conversei com dois deles meio rapidamente. Engraçado, lembrei logo do Luis Meneses, do Dande e da Ana Euler, e do Acre véio e suas parcerias. Mais à frente, de novo abordada, desta vez por um rapaz que, pelo que consegui entender, trabalha num orfanato ou algo do gênero e vendia cartões para juntar dinheiro e levar as crianças para passear. Conversa vai, conversa vem, fiquei com um de dois lobos: lembraram-me a Luna e o Alecrim; saudades desses dois. Finalmente, na Pont des Arts, já no Sena, um gentil pintor, Francesco, me apresentou alguns cartões dele, pintados a mão, e fiquei com um, com dedicatória e tudo. A cada vez que interagia, sentia que aquela solidão que queria chegar se afastava.

Viajando, cada dia é um dia.

Forte abraço, da amiga Mariana

7 comentários:

Unknown disse...

aí em volta da rua des écoles, mais para o lado direiro do boulevard Saint-Michel, têm umas lojas de alpinismo/montanhismo/caminhada muito legais (às vezs com promocões também bem legas). Chama-se Vieux Campeur (são várias lojas de acordo com o produtos - uma s'o de mochilas, outra de acesórios, outra de roupas.... Vale a pena uma visita.

E Rive Gauche ou Droite é em função do sentido para onde corre o Sena. Daí Rive (Margem) Gauche (esquerda) ou Droite (direita).

beijos

Anônimo disse...

Querida amiga, estou ligadona nos seus passos. Nunca fui tão assídua nas visitas ao blog!
Hoje estava pensando sobre essa aventura da sua viagem sozinha...
Solidão... que nada!
Beijos com saudade

Aflora disse...

Quanto ao droite ou gauche, imaginei isso que vc falou; só que não lembro em que sentido ele corre... Vou reparar. Valeu a lembrança da Vieux Campeur, vou lá sim dar uma olhada.

Unknown disse...

Mari querida,
estou aqui na casa da Cristina, que nunca tinha visto um blog na vida.
Não sabia q vc tinha um blog, nem q vc tinha viajado !!!! Com a palavra, ela :

Mari quanta distância e saudade.....não sei nada da sua vida ultimamente, nem vc. da minha....Vou entrar mais para te visitar no seu blog...vou tentar, isto tudo é muito moderno para mim...um bjo, cris

Aflora disse...

Fabio, valeu a mediação!
Cris, apareça sempre, também estou com saudades. Pois é, bem vinda ao mundo do blog, e em especial ao meu blog. Tua visita é um presente para mim. Passei pelo Rio tão rápido, e este pré-viagem foi meio corrido, mas logo estou de volta. Soube que vc andava pelo sul, por Gramado. Bjs aqui de Paris, Mary

Aflora disse...

Dedé, é isso aí, solidão que nada. Valeu. Bjsssss

Anônimo disse...

uau...
uma carta
pra mim
ou melhor
me tomando como intercessor
estou emocionado
falamos de vc todo dia
o que ela deve estar fazendo agora...
esperava suas noticias no mail
que idiota
logo eu que sou assíduo frequentador das suas histórias...
os estudos francês
topo sim
ja fiz algumas incursões pelo foucault
não é brincadeira
mas vai espairecendo
grato pela foto
coloca mais
por aqui
muita coisa querendo acontecer
nesse semestre
assim que algo se definir
eu escrevo
no mais
no zen
pra acalmar
e deixar o mundo livre
no seu curso desconcertado
grato pelo carinho
bons encontros
abraço
amilton