quinta-feira, 31 de julho de 2008

Visitando o Mestre Rodin

Fui hoje ao Museu Rodin, programa obrigatório para quem vem a Paris.

Auguste Rodin (1840-1917) foi um importante e famoso artista francês do final do século XIX e início do XX; foi contemporâneo de pessoas como Van Gogh, Renoir, Monet. A casa acima não foi propriamente a morada dele, e sim principalmente seu atelier, e que pouco antes de sua morte foi transformado num museu para abrigar sua obra. É uma bela construção, por dentro bastante simples até. Dentro e fora da edificação, as esculturas (em bronze e mármore principalmente) estão dispostas. As mais grandiosas, de bronze, estão ao ar livre, onde as flores - rosas em especial - rivalizam com elas [as esculturas] quem é mais bela. Vejam "O Pensador" abaixo.

Esta a seguir tem o nome de "A Sombra" e, como várias outras, é parte da "Porta do Inferno", uma obra que Rodin ficou anos e anos fazendo e que, ao morrer, não estava fundida em bronze, e sim modelada em mármore e com várias indicações de como deveria ser terminada. E assim foi feito.

É impressionante a Porta (foto abaixo), embora não tenha conseguido tirar nenhuma foto muito boa por causa da luz do sol. Mas vejam, até "O Pensador" está nela, no alto, abaixo das "Três Sombras", que também têm uma existência independente da Porta, como pode ser visto na segunda foto abaixo, em que as "Três Sombras" está cercada de visitantes, o que dá o clima do lugar e a dimensão das esculturas.


Esta outra aí abaixo é uma homenagem a Victor Hugo, de quem Rodin era totalmente fã. Chama-se "Homenagem a Victor Hugo". Segundo o que me foi informado, Rodin colocou o poeta e escritor numa posição imponente, como que parando as ondas do mar para melhor ouvir sua voz interior. Às suas costas, "A Meditação", que aparece em outros momentos da obra de Rodin, e atrás dele [de Victor Hugo], a tragédia, inspirando-o. É muito linda a escultura.

Dentro do Museu tem outras coisas lindas, como o beijo, escultura famosíssima e de grande sensibilidade. Aliás, há várias esculturas em mármore que envolvem casais, homens e mulheres.

Coloco para terminar uma escultura que não anotei o nome mas é incrível, pois o mármore está transparente, reparem, dá para ver a luz do sol do outro lado.

Pra mim resta inexplicável como esses escultores faziam coisas tão delicadas em materiais tão brutos e duros, como o mármore e o bronze. Tem um filme, que gostaria de rever, chamado "Camille Claudel", com o Gerard Depardieu no papel de Rodin e a Isabelle Adjani no de Camile. Camile foi uma assistente, discípula e amante de Rodin. O filme conta isso e outras coisas, mas é dramático, porque depois os dois romperam e Camille não teve um bom destino, me parece. De todo jeito, no museu tem uma sala com obras dela, que são belíssimas. Tem algumas delas, acho que duas, em que ela usa aquele mármore verde junto com bronze, nossa, dá um efeito sublime... Mais um bom motivo para conhecer o museu do Mestre Rodin.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Experiência aquática

Hoje fui a uma piscina comunitária. Bom, o sentido de "comunidade" aqui é meio diferente do nosso usual aí. Não se trata de uma piscina usada pelas comunidades rurais e desfavorecidas daqui (existem?). É uma piscina fruto da iniciativa de municipalidades vizinhas, entre elas Saint Germain en Laye (onde estou). Bom, são comunidades rurais no sentido de serem fora de Paris, mas são bem urbanizadas e com moradores, parecem-me, que classificaríamos no mínimo de "classe média". Saint Germain en Laye é cheio de lojinhas, boulangeries, boucheries, patisseries, boutiques de roupas diversas, papelaries e por aí vai; há cafés, mercados, super-mercados.

Voltando à piscina, hoje resolvi experimentar. Minha anfitriã aqui, Verônica, já havia comentado comigo, ainda no Brasil. O dia amanheceu bonito e eu com vontade de me exercitar. Lá fui eu. O apartamento onde estou é vizinha a um castelo (este acima, que se vê da varanda) e dá pra ir para a piscina tomando seus jardins por caminho, bem agradável. Vi até um esquilo no caminho. Não é quatipuru, é esquilo mesmo, daqueles "Tico e Teco". Pois bem, cheguei lá, paguei para entrar, tem um vestuário, tudo bem organizado, e uma piscinona olímpica!

Demais a piscina. Não lembro de ter nadado numa assim. Limpíssima e ampla (50 metros por uns 30 metros), e olha que "Deus e o mundo (que pode pagar 5 euros para entrar)" usam-na. Lá fui eu, toda animada. Tive uma surpresa, difícil de descrever, mas vou tentar. Nadei os primeiros 25 metros mirando o fundo, bem raso, com aquela marcação tradicional de piscinas competitivas, aquela linha preta que é um guia. De repente, o fundo começou a ficar gradativamente distante, a piscina começou a ficar funda, funda, funda, e ficou fundona - e eu lá nadando e olhando a marcação lá embaixo e, pela perspectiva que a posição oferecia, tendo uma impressão de amplidão, de infinitude (eu não via as bordas laterais). Deu até um susto, um temor, que aos poucos foi se transformando numa sensação de liberdade muito emocionante, e eu já esperava com alegria o momento em que a pisicina começava a ficar funda. O raso perdeu a graça.

Quando cheguei em casa, depois do banho, estava tão relaxada que fui dormir um sono, e não tive mais coragem de ir passear em Paris, meus planos iniciais. Fiquei por aqui. Ao final do dia fui dar uma volta, tomar um café e ler ao ar livre. E apreciar o dia que nunca finda nesta época do ano. A foto acima, onde está o castelo, foi tirada as 20 horas, e a abaixo, às 21 horas (todas as duas sem flash). Demais.

terça-feira, 29 de julho de 2008

"Procurando" no mercado daqui

Hoje pela manhã fui ao mercado de Saint-Germain em Laye, onde estou hospedada. Fica nos arredores de Paris, há uns 40 minutos de trem do centro da cidade, é uma outra municipalidade. Pois bem, fui ao mercado, que funciona três vezes por semana. Vende-se de tudo por lá: roupas, coisas de armarinho, tapetes (!), frutas, verduras, carnes, queijos. Tudo em tendas de teto claro, com espaço para circular entre elas - enfim, aquela coisa organizada que facilita a vida. A foto acima reúne o resultado desta minha incursão: à direita, em baixo, na cor branca, cogumelos que podem ser comidos ao natural (ainda vou provar); logo acima, uvas; depois, no sentido anti-horário, vem os morangos, cenouras, alface e abacates (um tipo que não conhecia, redondinho e escuro, também ainda não provei). Na cesta estão damascos (que amo!), tomatinhos (em cacho, uma gracinha) e umas framboesas (acho) que já estavam na casa quando cheguei. Havia mais coisas, coisas diferentes e atraentes, que quero ir provando aos poucos.
Em volta do mercado tem uma série de lojinhas com coisas comestíveis, como padarias (boulangeries), cheia de pães, bolos, doces e delícias. Dieta em Paris? Não dá mesmo. Mas comprei somente um "pain au chocolat" (um pãozinho gostoso recheado com chocolate) pra tomar com cafézinho expresso num Café ao lado, pegando um solzinho que hoje amanheceu friozinho.

Quase em frente a esta boulangerie havia uma loja de queijos (não anotei como se chama em francês), com um cheiro que dá pra sentir da calçada. Linda a loja, e enigmática.
Qual ou quais desses queijos acima você compraria? Não sabe? Pois é, eu também. [Ah, sim, você sabe? Aguardo uma dica.] Olhei, olhei, e nada comprei. São tantos, tantos nomes e para ocasiões ou gostos diversos que fiquei sem a menor idéia do que fazer. O meu francês não me animou a estabelecer uma conversação com o dono do estabelecimento neste sentido. Este é um território - gastronômico e do saber - que pretendo adentrar um pouco, ao menos para poder experimentar este valoroso e típico produto daqui.

Mas não estou sem comer queijo. Desde o primeiro dia, quando fui a super-mercado, adquiri um brie e um camembert, desses comerciais, de marca industrial... Quem (ainda) não tem cão, caça com gato!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Meu mundinho


Logo que cheguei no aeroporto, aquele ritual da bagagem, a esteira rodando, malas passando, "onde estará a minha?". Começou a demorar, mas olhava nas imediações e a turma que viajara comigo de Lisboa a Paris estava quase toda lá. Mas uma hora a esteira parou. Ué! Vejo e sigo meus companheiros que andavam em direção a um guiche, provavelmente o de reclamação. Era só o que me faltava, chegar sem a mala...

Pois foi isso mesmo que ocorreu (e eu nem cogitava nisso quando escrevi a última postagem falando sobre a imprevisibilidade do porvir). As bagagens estavam todas em Lisboa. Saí do aeroporto quase uma hora depois carregando minha bolsa de mão um papel com o registro da minha reclamação e um número para telefonar no dia seguinte. "Mas não se preocupe, é quase certo que às 10 horas da manhã estáremos lá com sua mala". Acertei fácil o caminho até em casa, e me virei com roupas dos meus anfitriãos. Dia seguinte, ligo, claro, as bagagens ainda estão em Lisboa, "talvez às 18 horas tenhamos alguma notícia". Passei o dia pensando nesta situação.

A primeira coisa que me fez pensar foram meus sapatos, bons para viajar de avião, mas não para andar em Paris debaixo do sol. Minha calça jeans, a mesma da viagem, também reforçou a vontade de ter minhas coisas: minha sandália havaiana, uma bermuda, uma saia. Não gosto de calça jeans no calor, nunca uso, por isso só trouxe a da viagem mesmo. Andei bastante hoje, mas do que planejara, passei por locais, como o Jardim de Luxemburgo (foto abaixo com a torre Eiffel ao fundo), que pediam algo mais leve e fresco.
Pensamentos à toa passavam pela minha cabeça: "e se a mala sumir? Como vou fazer? Só me faltava ter que comprar roupas novas aqui em Paris, com tanta coisa mais interessante para fazer". Aí pensava: "não, deixa disso, vai dar tudo certo". Mais um pouco de caminhada e calor, vinha outro pensamento: "ah, eu preparei a minha mala com tanto cuidado pra não trazer coisas em excesso, mas coisas que eu gosto de usar, comprei roupas especialmente para a viagem...". Corrigia meu pensamento, e assim passei a tarde me equilibrando entre ficar tranquila e sentir falta de algo que eu queria muito e não sabia quando teria, ou se teria - minha mala.
Pra encurtar a história, no fim do dia me foi devolvida a mala. Nossa! Foi muito louco, pois mudou o meu ambiente interno. Um peso saiu, uma leveza entrou. Aí fiquei pensando: "nossa, esta mala é mesmo importante para mim". Por que? Por causa das coisas materiais ali? Será que eu não poderia passar sem elas? Será isso um apego doido às "coisas"? Ou será porque ela é o meu mundo aqui em Paris? Ela encerra o que tenho aqui (lembrem-se que acabei de chegar) e também as minhas referências do Brasil? É como se a mala fosse um pouco da minha identidade, ou um pouco da minha identidade estivesse guardada ali dentro: minha maneira de me vestir, o que gosto de usar, minhas intenções ao fazer a mala para Paris.
Minha mala é, por hora, o meu universo, o meu mundinho que eu trouxe para cá. De repente senti-me ameaçada de ficar sem ele, e não foi nada confortável. Fiquei pensando nisso tudo, intrigada em como aquele bólido azul marinho e de rodinhas representava tanto para mim.

domingo, 27 de julho de 2008

Aflora sai de ferias


Ontem, no Rio, ao acordar, me deu vontade de desistir. Passei o dia todo assim: nervosa e achando meio inacreditavel o que estava as vesperas de fazer. Parecia sem sentido, simplesmente nao acreditava que isso ia acontecer: a noite embarcar sozinha para tao longe, para um pais de outra lingua, relativamente desconhecido, uma aventura para a qual, na hora "h", buscava um sentido.

Mas assim foi. Meio apavorada, meio nervosa, um pouco confusa, embarquei. Agora, neste exato momento,estou em Lisboa (escrevendo num teclado horroroso e sem acento). O panico ja passou, ate que passou logo, mas simplesmente nao consigo imginar os acontecimentos por virem. So o agora. Isso e bom, me mantem no presente, mas e´´ uma sensaçao conscientemente nova esta a de nao conseguir sequer imaginar o que vai ocorrer ate o fim do dia, quando chegarei a Paris e la devo, tomando um trem ou metro, acertar o caminho de casa.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O tempo em mim


Hoje estava na cozinha, a TV ligada, e ouvi uma propaganda de um produto de beleza, desses tipo miraculosos, e que dizia algo como "não deixe ninguém perceber que o tempo passou [e que agora você tem rugas]". Não foi a primeira vez que este anúncio, ou "reclame", como dizia minha avó, sobre um creme para o contorno dos olhos me chamou atenção. Num outro da Natura também já tinha reparado: um que vai mostrando cremes diversos e mulheres comuns sempre aparentando menos idade do que supostamente teriam - e isso as faz belas. Mesmo cremes para mulheres mais maduras, ou idosas, visam sempre disfarçar algo que se tem: as marcas do tempo. E a beleza das rugas?, me perguntei. Bom, é certo que "rugas" é uma palavra meio feiosa: ru-ga, sei lá, não gosto. Uma ruga é uma dobra que foi feita em algo que antes era liso, ou esticado. O seu rosto, outrora esticado, dobrou aqui e ali. Mas este "aqui e ali" é justamente o retrato externo do que se é, da vida que se viveu e da transitoriedade da vida. É bonito isso, penso. A conformação que seu rosto foi adquirindo durante a vida, as marcas do sorriso (populares "pé de galinha"), as rugas na testa pela preocupação - tudo isso é um patrimônio, pessoal e instransferível. Cruel esta nossa sociedade que quer mexer nisso, em nós e no tempo. Apague as marcas. Apague-as, são feias. Elas falam de você. É claro que uma plástica também fala de você: da vaidade, por exemplo. Isto não é necessariamente ruim, e o resultado pode ser bonito e fazer a pessoa mais feliz. Tudo bem. Mas falo por mim, do que fiquei pensando a partir daquele anúncio na TV. Gostaria de passar por esta vida sem fazer uma plástica, sinceramente gostaria. Ser eu mesma, assumir-me até as últimas consequências. Quero ter esta coragem. E quero mais: quero viver muito e ter auto-estima para encarar minhas rugas, as transformações do tempo, e ver nelas (e em mim) uma vida e uma pessoa que valem à pena. E ainda por cima sem maquiagem!

terça-feira, 15 de julho de 2008

Convite


Será no próximo dia 17, quinta-feira, a vernissage das mandalas da Simone Bichara (que muita gente conhece por Kátia Simone), às 17 horas, na Galeria de Artes Juvenal Antunes, na FEM, ali no calçadão da Gameleira. As obras permanecerão em exposição até o dia 06 de agosto. Vale conferir, são lindas as mandalas!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Los Porongas: a iniciação

Sabadão foi dia de iniciação. Há muito sentia que para reforçar e ir consolidando a parte acreana da minha identidade “acrioca” (sou do Rio de Janeiro), precisava conhecer melhor o Los Porongas, grupo de rock mais conhecido aqui do Acre, de Rio Branco, e que desde o ano passado ganhou o Brasil. Estão tocando e viajando pelo país, fazendo-se conhecidos e ganhando estrada. São quatro o Los Porongas: o Diogo (que canta, e muito e bem, e tem carisma), o João Eduardo (é o guitarrista do grupo e ainda toca piano, um luxo!), o Márcio Magrão (baixista) e o Jorge Anzol (na bateria).

Pois é, teve show deles em Rio Branco no sábado passado, “Los Porongas Convida”. O espetáculo foi pontuado de participações especiais, convidados: Glauber Jansen, do Nicles, banda também daqui; Edunira Assef, melhor cantora de Beatles, como definiu o Diogo, um dos momentos fortes do show com uma referência ao assassinato do José Alexandre; o Hermógenes, do Grupo Capu, primeiro grupo de música autoral do Acre, que fez uma performance inesquecível; o Aarão Prado, do Camundogs, também daqui; e ainda o Lucas Maná, amigo querido e do grupo Dona Chica. O show foi longo, acho que umas duas horas, mas a dinâmica de alternar músicas do grupo só com o grupo mesmo e presença de convidados tornou tudo muito gostoso e empolgante. Não deu bem para destrinchar as letras, o som dos instrumentos era forte (rock, sabe como é), mas o público fiel sabia de cor e cantava junto, ou seja, eu que tenho que me atualizar e aprender as canções. Ok, parte do dever de casa de um neófito.

Outro detalhe: crianças, havia várias delas no show com seus pais, duas delas inclusive num canto do palco. A mãe dançava animada na turma do gargarejo, e as duas crianças no palco, na mesma animação. Parecia festa de seringal, que dá de tudo: homens, mulheres, velhos, crianças, todos dançando.

Em setembro eles estão de volta para o lançamento do DVD e novo show. Demais os Los Porongas, virei fã! Sugestão: visite o blog deles, tem informações, vídeos, canções e otras cositas más. É, parece que me iniciei mesmo...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Amanhecer a Latour


Quero falar mesmo é do amanhecer. Aquela hora em que o céu clareia e um novo dia começa para quem acorda cedo (e para quem acorda tarde também, pois quando acorda sabe que o dia já vai longe). Acordar, abrir os olhos, se espreguiçar e sentir-se acompanhado pela presença calorosa do sol – é um aconchego.

(Vou resistir a tentação de esbravejar e dizer que agora acorda-se, espreguiça-se, mas sair da cama já não é tão fácil: não encontramos o sol no céu, e sim a noite nas suas últimas despedidas. E que já não dá para cantarolar aquele hino do Mestre que diz “seis horas da manhã, eu devo cantar, para receber a meu Pai Divinal”. Vou pular esta parte e voltar para o aconchego, ou melhor, para o astro nosso rei. Em tempo: sempre é possível, às sete horas do horário “oficial”, lembrar que na verdade são seis e cantar o hino; e ainda lembrar que lá no Alto Santo, o fuso permanece solar.)

Hoje estive conversando com uma amiga que dizia que o sol não nasce, nós é que vamos em direção a ele, já que ele está no seu lugar, reinando, e a Terra que vai girando e a ele nos mostrando. Tem hora que mostra um lado do planeta, tem hora que mostra o outro; assim tem-se o dia e a noite. Tá certo, o sol não nasce. Mas é também um modo de dizer, de ler a natureza, de dar sentido cultural-espiritual-estético a um evento natural. O assunto é interessante, vamos a ele.

É uma prova de que, ao contrário do que costumamos achar, a sociedade e a natureza não são coisas tão estanques assim; elas vem juntas num só pacote. Não há um sol externo, transcendente, acima de todos, com uma verdade própria e independente de nós – embora assim também ele exista; quanto à sociedade, não somos nós que a produzimos independentemente de tudo, numa imanência – embora também seja assim. Afinal, o que é e o que não é? O que é o quê? Justamente aí é que mora o perigo: nas coisas que “definitivamente” são e não são.

Assim é o pensamento ocidental: separa as coisas, especializa, as purifica, você para cá (por exemplo, os fatos da ciência) e você para lá (respectivamente, os fatos da política). Mas basta ler um jornal com Bruno Latour, ou mesmo prestar atenção nas conversas do dia à dia, para constatar a abundância não de “purezas”, mas de híbridos, de misturas. Você começa a ler uma matéria sobre o milho trangênico (um feito científico), e logo passa para os interesses (econômicos) da Monsanto, para o papel (político) da CNTBio e do MMA, para as políticas protecionistas dos países do Norte, para a fome nos países do Sul (estamos em plena geopolítica!), e para o direito do consumidor de saber o que ele está comprando nas prateleiras do supermercado. Misturou tudo. Relações foram estabelecidas, muitos agentes entraram na história, cada um fazendo links – e ao final há uma rede tecida e sempre pronta a ter pontos desmanchados e outros acrescentados. Separar “alhos dos bugalhos”, digamos, é um artificialismo sujeito a mil contradições.

Tentemos agora voltar ao amanhecer.

Quando falamos do sol, ou pensamos nele, o fazemos de determinada forma, estabelecemos relações várias. Por exemplo: sol-nascimento-luz-despertar-trabalho. Assim, o sol não é apenas um astro do cosmos, uma estrela, embora o seja, claro, mas sua natureza é híbrida, ou melhor, sua natureza é cultural e sua cultura é natural. Naturezas-culturas, são o que existem neste mundo, e não culturas, afirma Latour, pensador ousado. Pressinto (a ficha ainda não caiu) que nos seus escritos há uma alternativa a toda esta sensação de que nós, ocidentais, somos um desastre; há uma saída que não é apenas uma mea culpa. É... mas do que falávamos? Ah, sim, do sol!

Ao falar do sol, chamo em meu auxílio uma rede de fatos outros, a ele conectados, por mim ou por outros, e se tenho consciência disso toda a ilusão de pureza se desfaz. Posso falar que o sol nasce, ou que eu vou na direção em que ele está – são opções que não tem a ver apenas com o fato natural do sol, mas com conhecimentos e sentimentos vários. Antes de Copérnico e Galileu, era a Terra que ficava parada. Hoje sei que não é assim, mas, interessante, quando falo que o sol nasce parece que é a antiga concepção de que o sol se mexe e nós não que está operando; talvez uma concepção antropocentrada demais, pensando bem. Quando falo que eu vou em direção ao sol, talvez esteja sendo mais fiel ao movimento físico que de fato tem lugar, mas faço esta opção não apenas por causa deste conhecimento. Nesta decisão há uma concepção de vida envolvida, que por sua vez pertence a uma rede ampla de sentimentos, crenças e outros tantos conhecimentos.

Meu ser anseia por acordar com o sol (como se ele acordasse...).

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Manejo florestal: bom pra pensar

Começou de novo.


Chega o verão e assiste-se caminhões com toras passando para lá e para cá.


Nos pátios das madeireiras e serrarias do Pólo Moveleiro, aqui em Rio Branco, já há madeira estocada.


E fica a pergunta: da onde vem toda esta madeira? É legal? Como é extraída? Isso tem sustentabilidade?

O nosso secretário de Florestas, o Rezende (Carlos Ovídio Duarte Rocha), numa entrevista que vale a leitura (clique aqui) afirma que entre 5% e 6% da madeira extraída no estado é ilegal. O repórter até se espanta, já que no Pará, por exemplo, este número parece que beira os 80%. Também fiquei espantada. Nossa, que eficiência de fiscalização! Quando a gente vê a situação do Ibama no estado, sei lá, fica meio desconfiada desses números. Como eles são produzidos? Quais são as fontes que os [aos números] abastecem? O Rezende diz que um dos motivos para esta redução da ilegalidade seria a política governamental de implementação de planos de manejo florestais: quer explorar a floresta? Tem que ter plano de manejo!

E aí entramos noutra seara: a do manejo florestal, ou melhor, madeireiro, pois ao que me consta a madeira tem sido o principal foco desses planos, o principal produto econômico da floresta, então vamos dar nome aos bois (ops!). Uma coisa que sempre me chamou atenção é a idéia de que manejo florestal é algo recente, uma descoberta recente dos técnicos e cientistas. Ou então que manejo florestal refere-se aos produtos que tem valor monetário: era a borracha, a castanha ainda permanece, e o forte agora é a madeira.

Bom, entendo que manejo é algo que sempre existiu nessas florestas e realizado por quem mora nela há tanto tempo: as populações nativas. Não vou chover no molhado: é sabido que a floresta amazônica deve ser vista como um grande sistema manejado milenarmente, e não como algo totalmente “natural”. Os seringueiros, há pouco mais de cem anos também vem manejando a floresta. Manejo, como o entendo (e não sou só eu que digo isso), refere-se a um sistema de acesso e uso da floresta que combina uma série de atividades e produtos, com valor monetário ou não. A exploração da borracha sempre esteve associada a outras atividades florestais, como a caça, a pesca, a coleta de frutos, a extração de madeira e palmeiras para construções locais (residências, paióis etc), o conhecimento (expertise) das plantas medicinais, e mesmo a agricultura, que obedecia a um sistema de derruba e queima de baixo impacto. Tratava-se então de um sistema de manejo florestal, diversificado e “sustentável”, levado à cabo por unidades florestais familiares dispersas em amplos territórios, resultando numa baixa densidade demográfica. Ou seja, tudo isso para dizer que manejo não é nada novo, e sim algo histórico.

Mas o que é novo, então? O produto (madeira), o mercado (ávido!), sua cadeia produtiva (um capítulo a parte, já que extensa e cara), as questões legais (entre elas o plano de manejo), as políticas do governo (que agora incluem algo como as Parceiras Público-Privado-Comunidade, como fala do Rezende) – e o fato de que se espera que tudo isso mantenha a floresta em pé!

Bom, cada um dos fatores citados acima mereceria comentários. Farei alguns poucos. Pergunto-me como o manejo madeireiro interage com o sistema de manejo tradicional: o fortalece? Ou seus ganhos monetários tendem a descaracterizar o sistema? Claro que teríamos que considerar outros fatores aqui nesta interação, tais como o crescimento do número de rebanhos de gado entre as populações florestais, o aumento da importância dos ganhos monetários (notadamente salários) na floresta e ainda as mudanças na forma de ocupação do espaço, que parece tender a um processo de “vilarização” ou a uma maior concentração das residências em função da oferta de equipamentos públicos (escolas, por exemplo). Talvez o manejo madeireiro esteja se realizando num contexto bem diferente do tradicional sistema de colocações. Então, que realidade florestal estará se desenhando?

Semana passada li um artigo do Washington Novaes (clique aqui) no qual ele trazia um dado impactante: um estudo da Embrapa mostrou que a extração de uma espécie madeireira muito visada, a maçaranduba, necessitaria de 140 anos para recuperação do “talhão” da onde foi extraída. Ora, 140 anos não são 30 ou 40 anos, os prazos de recuperação que costumam ser previstos nos planos de manejo legalizados. Então, é verdade, concordo com o Rezende, o manejo cria uma memória do que deu e não deu certo (à diferença do corte raso e ilegal), mas será que os prazos de recuperação para a floresta não estarão por demais pressionados pela avidez do mercado e dos lucros que ele promete?

O fato é que parece que estamos naquela: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Diz o Rezende – a quem, quero deixar claro, respeito e com quem sempre aprendo algo, pois me faz pensar – que “à medida que a floresta tem um valor econômico maior, ela tem mais chance de sobreviver”. Estamos na corrida contra o mercado capitalista, que avança sobre as nossas florestas (basta ver os números de Rondônia, que já teve mais de um terço de sua área total desmatada), e o manejo surge como a panacéia para todos os males: ele irá nos permitir explorar “sustentavelmente” a floresta, dar valor monetário à floresta em pé, conservar a floresta para as gerações futuras, e ainda ganhar dinheiro, ou seja, ter um retorno financeiro compensador pela atividade. Nada disso é certo, tudo ainda está por ser provado – na minha opinião. É uma aposta, de alto risco. Não sou, à princípio, contra o manejo, mas minha profissão e minha natureza me impedem de aderir de cara e incondicionalmente a uma proposta que, sei, encerra problemas de execução e assimetrias várias.

E até agora não falamos ainda das comunidades, do seu ponto de vista, do que ocorre nelas, e de como, para elas, esta parceria com o governo e as empresas se realiza. Se as pessoas que moram na floresta são a solução, e não um problema, como diz o Rezende, o que será que elas estão pensando disso tudo? Compartilho aqui das preocupações da minha amiga Débora Almeida, que se pergunta sobre, afinal, numa comunidade “de quem é o negócio da madeira”? Esta pergunta é relevante, principalmente se pensamos nas relações quase que inevitavelmente assimétricas que têm lugar numa parceria entre governo, empresários e comunitários. Que controle estão tendo as comunidades sobre o negócio? A execução técnica do manejo florestal pelos comunitários não parece ser o gargalo. Feito o inventário, identificada as árvores aptas para a derrubada, derrubadas as mesmas e transportadas as toras, bem, aí entra-se numa roda-viva (cadeia produtiva) cujo controle do comunitário é muito relativo. Além de cara, longa, sofisticada tecnologicamente e destinada a mercados fisicamente distantes, o processo de comercialização obedece a uma temporalidade outra, a negociações e contratos demorados, a pagamentos parcelados, colocam equações quase insolúveis para os cálculos econômicos que o comunitário faz para planejar o destino de seus ganhos no negócio. Talvez eu esteja generalizando por demais, talvez. Mas foi que vi quando estive numa área de “manejo florestal comunitário” no ano passado.

O tema é quente, desafiante e muito interessante. Acho que devo escrever algo mais extenso sobre isso, a partir do que sei e da experiência que tive. É, vou me organizar para isso.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Ainda a florestania


Uma vez, após uma longa caminhada pela mata e pelo rio, arrastando canoa pois era verão, Toinho Alves e seus companheiros chegaram a uma colocação de centro. Logo se arrumaram para dormir, estavam todos muito cansados. Com certeza comeram algo antes de deitarem em suas redes. Naquele estágio antes do sono chegar, quando o pensamento vai embaralhando e fica-se entre acordado e adormecido, Toinho percebeu que seu raio de percepção do entorno ampliara-se sensivelmente: escutava os sons da mata, dos animais num raio de aproximadamente 50 metros e, ao ouví-los, podia visualizá-los, ou imaginá-los. Realizou que sua mente não era só aquilo que costumeiramente se define como pensamentos, e que parecem residir dentro da cabeça da gente, no cérebro, e sim que sua mente correspondia aquilo do qual tinha percepção sensível. Num instante, que durou segundos, as linhas demarcatórias entre mente e matéria se diluíram. A consciência e o corpo eram um só.

"Tudo é um", já dizia Heráclito, lembrou-nos Toinho, na conversa que tivemos na noite passada na UFAC. O convidei para um encontro com a minha turma de Sociedade e Meio Ambiente (5o. período de Ciências Sociais). Neste curso estamos fazendo uma incursão - todos nós, professora e alunos - no tema das relações entre cultura e natureza, entre humanidade e animalidade, tentando borrar um pouco estas fronteiras tão paradigmáticas do pensamento ocidental. Temos nos valido basicamente de literatura antropológica, e já passamos por "clássicos" como Marcel Mauss e Evans-Pritchard, por outros mais contemporâneos como Philippe Descola, Tim Ingold e Eduardo Viveiros de Castro, e estamos agora na última parte do curso, aprofundando o estudo de propostas ou visões que apontem para outras cosmovisões. Pois bem, achei que o Toinho e a idéia de "florestania" poderiam colaborar com nossos estudos.

A florestania, diz Toinho, mais do que uma idéia, deve ser um sentimento; está no plano mental-corporal; é algo que se sabe porque se sente. Sim, mas é o quê este sentimento? Entendi que tem a ver com o que somos.

Toinho diz que estamos hoje pressionados por basicamente duas ocorrências simultâneas que a seu ver são apenas uma: uma revolução natural (que vem na esteira das mudanças climáticas e aquecimento global) e um tsunami social (irrupções sociais, guerras, selvageria urbana, crises de valores). Esta separação analítica que fazemos entre eventos naturais e sociais é, num certo sentido, falsa. Podemos, por exemplo, lembrou-nos o palestrante, vislumbrar suas raízes na mitologia ocidental do livro do Gênesis, um mito fundador. Lá estavam Adão e Eva e todos os seres viventes, convivendo em harmonia, sem diferenças, sem conflitos. Havia apenas uma interdição: o fruto a árvore do conhecimento. Por que interditada?

Bom, o que aconteceu lá no Paraíso mostrou que provar desta fruta foi instaurar a dualidade no mundo: bem e mal, cultura e natureza, homem e animal, vestido e nú, superior e inferior. E, observe-se, o nosso antropocentrismo e etnocentrismo permite relacionar estas oposições de forma respectiva: bem/cultura/homem/vestido/superior versus mal/natureza/animal/nú/inferior, e por aí vai. Na história dos descobrimentos, por exemplo, o homem "civilizado" europeu considerava-se superior aos "selvagens" do Novo Mundo, enxergados como "seres naturais", ou seja, sem cultura ou mesmo condição de humanidade (têm alma?, era uma pergunta da época). Era preciso civilizar estas pessoas, tirá-las da natureza e introduzí-las na cultura (roupas, religião etc). Todos sabemos os resultados catastróficos desse projeto civilizador...

Para tentar fugir deste modelo de pensamento, Toinho propôs a imagem de icebergs: todos nós somos um, cuja ponta visível é o que achamos que somos, como nos apresentamos no mundo, nossa racionalidade e emoções mais conscientes. A medida que vamos descendo, dimensões insondáveis do nosso ser podem ir se revelando, inconscientes, ancestrais, pré-históricas, e muito dificilmente teremos acesso a todo este universo. Mas isso tudo está lá, nos constituindo. Somos muito mais do que sequer imaginamos, e este "muito mais" inclui o que costumamos colocar em planos separados de nós mesmos. Ou seja, somos não só humanos (natural e culturalmente falando), mas também animais, vegetais, minerais, universais, cósmicos. A florestania, neste sentido, seria como uma rede cujos pontos estão linkados e novas conexões podem sempre ser estabelecidas. Tudo é um.

A florestania, disse Toinho, é um sentimento de mundo, a formação da nossa alma. A florestania está associada à floresta, que é o meio em que vivemos aqui no Acre (ou na Amazônia) e que nos constitui, quer queiramos ou não (para aqueles que acham a "selva" um símbolo de "atraso"), quer saibamos ou não. Esta floresta não é só, claro, árvores, animais, rios etc (embora o seja também), comporta também as populações humanas e suas histórias de constituição, contato, confronto. A florestania é uma singularidade multidimensional.

Este termo foi cunhado num contexto de disputas políticas, quando o PT sonhava em governar o Acre, e discutia-se o modelo de desenvolvimento possível para o estado. Toinho contou-nos um pouco das resistências que o termo enfrentou dentro do partido, que relutava em empunhar a bandeira da conservação como uma das bases para o desenvolvimento do Acre. Acabou adotando-o, mas o fez descaracterizando-o ao associá-lo à noção de cidadania. Se a florestania é uma singularidade (pois que assentada no direito à diferença), a cidadania já fala em direitos universais, uniformes, iguais para todos. A cidadania enquadra a existência, digamos assim, e a florestania quer a liberdade da existência. A cidadania é para os humanos, a florestania visa também os não-humanos. A florestania pode chegar a divergir da cidadania quando esta impõe soluções prontas para situações ou realidades em movimento.

Pra finalizar, a florestania é um termo em movimento, como não poderia deixar de ser. Outros já escreveram sobre ele, e sugiro aqui a leitura de um belo e curto texto de Mauro Almeida (clique aqui). Pretendi apenas registrar e socializar a boa conversa que tivemos ontem à noite, e que pode interessar ao leitor ou leitora que passe por aqui. E ainda colaborar com o trabalho do Tissiano Silveira, meu orientando de monografia na UFAC, a quem dedico esta postagem.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Alegria pura!

Hoje assisti o casamento de Maria Chacrona da Luz e Jagubino Mariri da Força - acreditam? Pois é, foi lá do Arraial Cultural que ocorre esses dias no estacionamento da Arena da Floresta (nome do estádio de futebol daqui da capital acreana).


O casamento, parte tradicional dos festejos juninos e também de um concurso de quadrilhas que tem todo ano, foi encenado pelos Apalquentados do Tangará, um grupo que por seis meses, no dito bairro do Tangará, ensaiou para a apresentação de hoje. O texto é de Cícero Farias e a direção, de Karla Martins. A coreografia, bom, não sei, mas merece aplausos também, assim como o figurino. Tratou-se - todo o conjunto: texto, dança, interpretação, vestuário - de uma sensível, poética e estética homenagem do Apalquentados aos grupos que fazem uso ritual da ayahuasca na cidade de Rio Branco.


Conversando com a Karla depois da apresentação, ela contou um pouco de como todo o processo aproximou as pessoas do grupo da realidade dos grupos ayahuasqueiros, que eles não conheciam, quer dizer, só de ouvir falar. No São João, ela contou, levou o grupo ao Alto Santo, para conhecer de perto; disse que todos gostaram muito, e que se admiraram com o bailado, o ambiente de respeito e a gentileza com que foram tratados. Foi uma descoberta para essas pessoas. Que esta iniciativa, tão bacana, possa sensibilizar positivamente também aqueles que assistiram a apresentação para o patrimônio cultural que só esta cidade tem.


Aprendi este ano, assistindo a um outro concurso de quadrilhas no Sesc, que toda apresentação comporta um enredo inicial, em torno de um casamento, e aí depois vem a festa, que é a apresentação coreográfica da dança da quadrilha. Surpreendi-me, não tanto com o fato da história de um casamento, e sim com a dança mesmo: é inacreditável o tanto que o povo, homens e mulheres, pulam e remexem-se para dançar a quadrilha, aquela que a gente dança quando menino e mais velho também, que tem "a grande roda", "olha a chuva", "a cobra!" - que coisa mais boa! Pois é, mas nunca tinha visto do jeito que tem aqui. Talvez tenha noutros cantos (no Nordeste?), mas eu desconhecia. Tem uma beleza de movimentos, mas, novamente a partir da experiência deste ano, saquei que as roupas, o tempo de apresentação e a criatividade da coreografia são fundamentais pra não ficar uma coisa enfadonha e quase monótona (mesmo com toda a pulação, sua repetição pode cansar).


Bom, mas estávamos no casamento do Jagubino e da Chacrona, uma união profetizada em mirações que os dois receberam. E aí tinha um padrinho e uma madrinha servindo "daime" para o povo da quadrilha (era igualzinho... o que será que era?), teve a Rainha da Floresta aparecendo em miração, fogos de artifício, bailado e maracá. Ah, gente, foi muito lindo. E aí a festa animada! Uma coreografia toda criativa, a turma da quadrilha esbanjando alegria, contagiava a gente! Criou-se um clima tão gostoso que quem é ayahuasqueiro fica logo achando que não podia ser diferente. E tudo com muito respeito e educação. Nas roupas dos homens, o sol, na das mulheres, uma pequena coroa, algumas fitas e lindas saias multicores. Um texto bem humorado o do Cícero, todo em cordel, daqueles que a gente fica seguindo as rimas e a história. Ao final da apresentação, que achei até curta (!), mandei uma mensagem para o celular da Karla: Já ganhou!!!

Só um porém: a bateria da minha máquina acabou logo no início da apresentação, e por isso não tenho fotos de todo o grupo dançando mesmo. Fiz três pequenos filminhos antes da máquina apagar, mas ainda não sei como se faz pra postar filmes. Vou aprender.