quarta-feira, 16 de maio de 2012

O espírito da floresta em Paris


Desde ontem, dia 15 de maio, até 21 de outubro deste ano, a floresta baixou na Fundação Cartier, em Paris. Pois é, trata-se da exposição Histoires de voir: Histórias de se ver, com obras e narrativas de mais de 40 pintores, escultores e cineastas de países como o Brasil, Índia, Congo, Haiti, México, Dinamarca, Japão e EUA. Não são artistas renomados no mundo das artes plásticas. Como diz o curador da exposição: trata-se de pessoas para quem a arte "tem laços estreitos com a hipersensibilidade do coração", e cujos trabalhos são "documentos vivos". 

O mais bacana de tudo é que temos amigos expondo lá: o grupo de desenhistas da  Terra Indígena do Rio Jordão, que traduzem em imagens suas mirações sob a força e o canto ayahuasqueiros. 

Na verdade, ano passado, a exposição "O espírito da floresta" teve sua primeira vernissage aqui em Rio Branco, e quem viu, viu, quem não viu... se socorra do blog do projeto

Estão lá em Paris, participando dos eventos em torno da exposição o Ibã e o Amilton Pelegrino de Mattos, os dois parceiros que idealizaram o projeto, e seguem tocando e desdobrando esta fértil parceria. Longa vida a ela! E os dois, não satisfeitos com o mundo das artes, aceitaram o convite da profa. Véronique Boyer e foram palestrar para a intelectualidade francesa no Centro de Pesquisa Sobre os Mundos Americanos. Tanto o Amilton como a Véronique são parte da equipe do nosso Laboratório de Antropologia e Florestas (Aflora), aqui na UFAC, e o Ibã bem pode ser considerado um membro honorário! Estamos bem honrados com tudo isso.




Viva o povo Huni Kuin! Viva o Jordão! Viva a ayahuasca! E viva a Rainha da Floresta!

terça-feira, 8 de maio de 2012

Carta Declaratória sobre a Prospecção e Exploração de Petróleo e Gás no Juruá


Reunidos na cidade de Cruzeiro do Sul durante o Seminário “Petróleo, Gás e Ferrovia no Juruá: Desafios e Oportunidades para as Comunidades”, no dia 14 de abril de 2012, nós, representantes de 09 povos, 12 Terras Indígenas e 04 associações indígenas, por intermédio desta carta, apresentamos alguns pontos que entendemos são de extrema urgência e de importância para serem considerados e tratados pela Presidente da República, a Agência Nacional de Petróleo, o Governo do Estado do Acre e demais instituições envolvidas.
É de nosso conhecimento que as atividades de prospecção de petróleo e gás estão ocorrendo na região do Juruá, especificamente nos Municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Porto Walter e Marechal Taumaturgo, sem os informes e os esclarecimentos necessários para salvaguarda da população e do meio ambiente da região, caso venha acontecer algum prejuízo.
Nós percebemos que até o momento vem acontecendo reuniões e encontros políticos que tratam sobre esses grandes projetos de desenvolvimento. Não foram consideradas, contudo, as reuniões de informação e de consulta com a população da região, que seriam de extrema importância para discutir os riscos e benefícios de forma bem transparente.
De acordo com o mapa de linhas sísmicas da empresa Georadar, a atividade chegará próxima às Terras Indígenas Campinas-Katukina, Poyanawa, Jaminawa do Igarapé Preto e Arara do Igarapé Humaitá, além do Parque Nacional da Serra do Divisor, podendo ocasionar impactos ambientais, sociais e culturais, diretos e indiretos, nos territórios, nas populações indígenas e populações tradicionais.
Cientes dos direitos aos nossos territórios e a processos de  Consulta Livre, Previa e Informada, com base no Artigo 231 da Constituição Federal: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar seus bens”, e no seu inciso 3: “O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivadas com autorização do Congresso Nacional, e ouvidas às comunidades.”, nós, lideranças presentes no seminário acima citado, consideramos alguns pontos que podem afetar diretamente os territórios das populações tradicionais da região:
·         Se confirmada a existência de petróleo e gás na terceira fase da prospecção, a do levantamento sísmico, na próxima etapa de exploração podem ocorrer impactos em nossas comunidades e territórios, situação que nos preocupa muito, por que vem contrariar a gestão territorial e ambiental nas terras indígenas e as recomendações do Zoneamento Ecológico Econômico do Estado do Acre;
·         Este processo reforça as ameaças aos direitos indígenas e reforça um modelo de desenvolvimento que ameaça a cultura dos povos indígenas, como por exemplo, a criação de dependência das comunidades a novas necessidades.
·         Durante 10 meses, a empresa Georadar vai contratar cerca de 400 pessoas da região para trabalhar como mão de obra nas picadas. Esta quantidade de pessoas vai ficar acampada, tendo que abrir clareiras e picadas, criando impactos muito grandes sobre os animais que constitui a principal alimentação dos moradores da floresta. Esses trabalhadores vão criar uma grande movimentação fluvial e terrestre, que pode ocasionar poluição dos rios, afetando a saúde da população local. Estamos preocupados, ainda, com os impactos sociais que a presença dessa quantidade de homens pode causar nas comunidades e mesmo nas cidades onde funcionarão os acampamentos.
·         Temos o direito de sermos informados sobre os locais onde estão ocorrendo às atividades de prospecção de petróleo e gás e, também, devemos saber como estes processos estarão sendo feitos. Uma política de informação deve ser desenvolvida nas comunidades da região, para alertá-las dos trabalhos que serão realizados e dos riscos que estes envolvem.
·         Não precisamos de assistencialismo, mas queremos benefícios, através de projetos de saúde de qualidade, de educação, de produção sustentável e do fortalecimento da nossa organização social e cultural nas nossas terras e de nossas organizações de representação.
·         Para além das medidas já previstas no Plano de Controle Ambiental e na licença concedida pelo IBAMA, temos direito, como parte de um processo de consulta livre, prévia e informada, de debater as formas de compensação e repartição de benefícios dos empreendimentos ligados ao desenvolvimento regional.
·         Requeremos que os órgãos ambientais (IBAMA, ICMBio, SEMA e IMAC) e os Ministérios Públicos Federal e Estadual façam respeitar a legislação e as salvaguardas ambientais relativas à prospecção e à exploração de petróleo e gás, socializando e divulgando os relatórios relativos às fiscalizações e ao cumprimento dos condicionantes do licenciamento.
·          Rejeitamos possíveis mudanças na legislação, na regulamentação da lei de mineração no Congresso Nacional, que vise abrir as terras indígenas à prospecção e à exploração de petróleo e gás, por que vai contra os direitos indígenas, consagrados na Constituição Federal e nas convenções internacionais (Convenção 169 da OIT e Declaração dos Direitos Indígenas da ONU).

Cruzeiro do Sul – Acre, 14 de Abril de 2012

Assinam esta carta
Organização dos Professores indígenas do Acre (OPIAC)
Associação Apiwtxa do Rio Amônea
Associação do Povo Arara do Igarapé Humaitá – APAIH
Associação do Povo Indígena Nukini da Republica – AIN
E representantes das Terras Indígenas
Nukini
Kaxinawá do Rio Jordão
Campinas/Katukina
Kaxinawá da Praia do Carapanã
Rio Gregório
Kaxinawá/Ashaninka do rio Breu
Cabeceira do Rio Acre
      Arara do Igarapé Humaitá