Direto de Marechal Thaumaturgo, extremo oeste do Acre, alto rio Juruá, Murilo Seabra conta um ocorrido recente...
“Eu não sou de Marechal Thaumaturgo. Cheguei aqui na região há cinco meses e estou aqui na sede do município há dois meses. Conversando com Izaquiel, que tem uma vendinha perto da praça central, fiquei sabendo que os fazendeiros e açougueiros daqui jogavam os couros dos bois abatidos nas margens do rio Amônea [afluente do Juruá]. Lá os couros apodreciam e a “água preta”, como dizem os thaumaturguenses, escorria para o rio. Levei os meus alunos [de arte e filosofia] para visitarmos o local. Descobrimos que algumas famílias ficavam expostas ao fedor vindo dos couros. Depois conversei sobre o fato com o presidente da Câmara dos Vereadores. Foi marcada uma assembléia com os vereadores, o prefeito, os fazendeiros, os açougueiros e os moradores. Levei meus alunos. Dois outros professores também compareceram. A assembléia teve um resultado positivo. O prefeito disse que a partir daquela data estava proibido jogar couros nas margens do rio e os couros que já estavam lá foram retirados no dia seguinte. Estou, é claro, resumindo excessivamente a história. Mas não é difícil imaginar, por exemplo, que as autoridades não queriam resolver o problema e que fui inclusive advertido em off para deixá-lo de lado. Já não sou tão bem querido em Marechal Thaumaturgo como era dois meses atrás. Hoje [26 de agosto] fazem exatamente quatro dias que aconteceu a assembléia”.
No dia 21, Murilo havia escrito o seguinte email:
“É engraçado como as coisas aconteceram... Nunca pensei em reclamar dos couros de boi daqui... Nunca... Nem sabia que eles existiam... Mas acabei me apaixonando pelas águas do Amônea... E aí quando Izaquiel me contou dos couros, fiquei inquieto... Fiquei três dias literalmente passando mal... Precisava ir lá... Tinha que ver a coisa com meus próprios olhos... Estava inquieto... E fiquei inquieto até o momento em que fui lá... E a inquietação, é claro, não passou...”
Atitudes movidas pelo coração e pela inteligência ainda fazem diferença neste mundo de meu Deus. É como a história do beija-flor apagando o incêndio na floresta, levando e trazendo água em seu diminuto bico. Aos animais que fugiam do fogo e do beija-flor troçavam, ele respondia: "estou fazendo a minha parte". A postagem de hoje está dedicada a você, Murilo.
2 comentários:
O que aquele prédio de 3 andares tá fazendo no barranco do rio em Marechal Thaumaturgo?
Que carinho.
Beijos.
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