Na floresta, diria o bom observador. Ou nos caminhões de tora que cada vez mais se tornam comuns, diria um segundo bom observador. Mas para onde vai a madeira que passa em cima desses caminhões?
Pergunto porque passei a tarde de hoje com três amigos (a Gisela, o Joca e o Antonio) percorrendo algumas madeireiras do Pólo aqui de Rio Branco e, acreditem se quiser, madeira é artigo raro. E isso em pleno verão, quando é favorável transportar as toras já que os ramais e estradas de terra estão transitáveis. Encontramos, via de regra, cumaru e cumaru-cetim, madeiras conhecidas por sua dureza e peso. Como fazer um forro de cumaru? Corre o risco do telhado cair...!
Um dos empresários com quem conversamos atribuiu a responsabilidade pela falta de madeira à morosidade burocrática de liberação de licenças de extração e transporte. Visitamos uma outra, com um pátio imeeeenso, e vazio. O dono disse que este ano provavelmente não vai nem operar. Ouvimos de um funcionário de uma outra madeireira que havia sim outras espécies, mas para exportação para fora do estado. De outras pessoas, também contruindo ou fazendo obras, já ouvira esta resposta. Mas e o consumidor local? Ah, sim, cumaru e cumaru-cetim... e o forro continua sem solução. Bom, algumas pistas então para a pergunta inicial: ou a madeira está em pé, ou lá no canto onde foi derrubada, ou aguardando para ser exportada.
Maior calor, a gente pra lá e pra cá, e nada de madeira. Tentamos um sorvete pra refrecar, mas a marca era de fundo de quintal, o gosto duvidoso. Ok, não tem madeira para os moradores e consumidores do estado com uma das maiores coberturas florestais; o estado que pretende ter neste seu patrimônio natural um de seus principais produtos comerciais. Num certo sentido, pode-se pensar, é até coerente: governo da floresta não deixa arrancar a floresta! Ah, mas seria bom demais pra ser verdade... embora o forro fosse continuar sem solução. Tudo bem, faz a casa sem forro - a floresta merece isso e muito mais.
Mas, não sejamos tão radicais. Afinal, uma casa de madeira, naturalmente climatizada, é muito mais coerente do que cimento, brita, areia etc etc - materiais que vem todos de fora do estado, gastando combustível e poluindo a atmosfera. Ah, mas e a madeira manejada? Certificada? Ora, claro que já pensáramos nisso, aliás foi a primeira coisa na qual pensamos. E de preferência comunitária. Tentamos a Cooperfloresta, uma cooperativa de produtores comunitários de madeira manejada e, parte dela, certificada pelo FSC.
Bom, há alguma possibilidade de conseguir adquirir parte do que precisamos junto a Cooperfloresta, em especial uma madeira cujos planos de manejo já estão aprovados. As demais áreas, em especial a da Reserva Extrativista Chico Mendes, enfrenta ainda esta etapa junto ao Ibama. Mas o mais interessante de tudo, para não dizer dramático, é a situação atual da Cooperfloresta e seus demais sócios, que têm, junto ao orgão ambiental estadual, 46 pendências a sanar... Entre elas, pérolas como exigência de ITR das áreas ocupadas pelos produtores comunitários, que vivem em unidades de conservação nas quais não se paga ITR...
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