segunda-feira, 28 de julho de 2008

Meu mundinho


Logo que cheguei no aeroporto, aquele ritual da bagagem, a esteira rodando, malas passando, "onde estará a minha?". Começou a demorar, mas olhava nas imediações e a turma que viajara comigo de Lisboa a Paris estava quase toda lá. Mas uma hora a esteira parou. Ué! Vejo e sigo meus companheiros que andavam em direção a um guiche, provavelmente o de reclamação. Era só o que me faltava, chegar sem a mala...

Pois foi isso mesmo que ocorreu (e eu nem cogitava nisso quando escrevi a última postagem falando sobre a imprevisibilidade do porvir). As bagagens estavam todas em Lisboa. Saí do aeroporto quase uma hora depois carregando minha bolsa de mão um papel com o registro da minha reclamação e um número para telefonar no dia seguinte. "Mas não se preocupe, é quase certo que às 10 horas da manhã estáremos lá com sua mala". Acertei fácil o caminho até em casa, e me virei com roupas dos meus anfitriãos. Dia seguinte, ligo, claro, as bagagens ainda estão em Lisboa, "talvez às 18 horas tenhamos alguma notícia". Passei o dia pensando nesta situação.

A primeira coisa que me fez pensar foram meus sapatos, bons para viajar de avião, mas não para andar em Paris debaixo do sol. Minha calça jeans, a mesma da viagem, também reforçou a vontade de ter minhas coisas: minha sandália havaiana, uma bermuda, uma saia. Não gosto de calça jeans no calor, nunca uso, por isso só trouxe a da viagem mesmo. Andei bastante hoje, mas do que planejara, passei por locais, como o Jardim de Luxemburgo (foto abaixo com a torre Eiffel ao fundo), que pediam algo mais leve e fresco.
Pensamentos à toa passavam pela minha cabeça: "e se a mala sumir? Como vou fazer? Só me faltava ter que comprar roupas novas aqui em Paris, com tanta coisa mais interessante para fazer". Aí pensava: "não, deixa disso, vai dar tudo certo". Mais um pouco de caminhada e calor, vinha outro pensamento: "ah, eu preparei a minha mala com tanto cuidado pra não trazer coisas em excesso, mas coisas que eu gosto de usar, comprei roupas especialmente para a viagem...". Corrigia meu pensamento, e assim passei a tarde me equilibrando entre ficar tranquila e sentir falta de algo que eu queria muito e não sabia quando teria, ou se teria - minha mala.
Pra encurtar a história, no fim do dia me foi devolvida a mala. Nossa! Foi muito louco, pois mudou o meu ambiente interno. Um peso saiu, uma leveza entrou. Aí fiquei pensando: "nossa, esta mala é mesmo importante para mim". Por que? Por causa das coisas materiais ali? Será que eu não poderia passar sem elas? Será isso um apego doido às "coisas"? Ou será porque ela é o meu mundo aqui em Paris? Ela encerra o que tenho aqui (lembrem-se que acabei de chegar) e também as minhas referências do Brasil? É como se a mala fosse um pouco da minha identidade, ou um pouco da minha identidade estivesse guardada ali dentro: minha maneira de me vestir, o que gosto de usar, minhas intenções ao fazer a mala para Paris.
Minha mala é, por hora, o meu universo, o meu mundinho que eu trouxe para cá. De repente senti-me ameaçada de ficar sem ele, e não foi nada confortável. Fiquei pensando nisso tudo, intrigada em como aquele bólido azul marinho e de rodinhas representava tanto para mim.

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