quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Ainda na mesma história

Em Paris faz frio. Hoje amanheceu fazendo 15 graus, em pleno verão. Sinceramente, fui pega de calças curtas. Uma das compras que fiz aqui e não esperava foram um sapato fechado e um casaco. Ontem, já na fase despedidas, pude fazer um passeio à pé, à noite, no Sena, vendo a Notre Dame. Nossa, que lindo! E frio. Choveu. O jeito foi correr para um café e ficar lá esquentando o corpo com um chocolate quente. De lá até o metro, mais frio. Cadê o sol, meu Deus?


Continuei pensando sobre as reflexões da postagem passada. Sabe, a vida aqui é muito confortável. Tem uma série de confortos materiais. Bom, claro que tudo isso custa, que há pessoas que acessam menos esses confortos. Você entra num supermercado, a seção de congelados é grande, de todo tipo; comidas prontas também, que é só chegar em casa, esquentar e comer; saladas prontas, ou mesmo já lavadas (as folhas). Queijos de todo tipo, formato e embalagens. Milhares de biscoitos, chocolates, yogurtes, produtos de limpeza e por aí vai. Talvez não muito diferente de um supermercado de um grande centro brasileiro. Na rua, as lojas tem uma sofisticação. São bonitas, bem ajeitadas. Os cafés, estes têm de todo tipo. As coisas funcionam, tem uma eficiência. O transporte público aqui em Paris é invejável; aqui não é preciso ter carro, uma maravilha. O que estou querendo pensar é que há um padrão de conforto material, acessível mediante desembolso financeiro, e que isso seria um valor da vida urbana européia. E que não se abre mão disso de uma hora para outra.


Muito do que se consome gera lixo; muito do que se consome está ligada a processos agroindustriais (e de sofrimento animal). Aqui é mais difícil uma coisa como a feira de orgânicos de Rio Branco, onde você vai e encontra o produtor, por exemplo. Percebi aqui como minha vida é diferente. Como meu consumo é diferente, como o que preciso para ser feliz é diferente. O que cada um acha que precisa para ser feliz? No Brasil, com seus PACs & Cia., seus políticos e elites, e seu povo que vê muita televisão, talvez esteja embutido um complexo de inferioridade do querer ser igual a Paris (ao Primeiro Mundo). A floresta, o pantanal, a caatinga e outros mais vão ter que se adaptar, se incluir (plano de inclusão ambiental!) e não nós, humanos brancos e civilizados, a eles - isso é o que parece. Realmente, se é assim, somos mesmo Terceiro Mundo, atrasadinhos e tapadinhos.

Um comentário:

corisco disse...

uau quanta sincera simplicidade
estou gostando dessa sua antropofagia parisiense - com direito a perspectiva holandesa
estou quase topando essa sua revolução dos inocentes
distraídos venceremos...
da inocência revolucionária contra toda culpa que insistimos em arrastar em nosso fardo cristão
que eles recebam de volta junto com as suas embalagens plásticas, que nós ficamos com a floresta e sua inocência paradisíaca...
e viva o velho mundo...
afinal, um dia, a todo custo, ainda seremos modernos...
ainda nas mesmas saudades...
amilton