quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Do Velho Mundo ao Novo Mundo

Transições podem não ser muito fáceis. Esta aterrisagem no Acre está sendo bem intensa, e acho que por isso estou há tanto tempo sem escrever e hoje o faço não sem resistência. Há cada dia sinto-me mais "aterrada", o que é reconfortante. As referências familiares vão se tornando mais presentes e dando sentido as coisas em volta. Nos dois primeiros dias, parecia que estava sonhando: como se fosse acordar a qualquer momento (para estar aonde não sei). Tentando manter a tranquilidade interior - pois a coisa toda por vezes pode ser bem desconfortável - uma das idéias que tive é que se trata da passagem de um movimento de expansão (Rio Branco - Acre - Brasil - América - Atlântico - Europa - França - Paris), e tudo novo que ele traz (como a "dimensão de mundo" de que já falei aqui), para um outro, oposto, de concentração, invertendo o movimento: de Paris a Rio Branco. Então, estava lá descobrindo que o mundo é grande mesmo e retornei para o meu mundo, nem grande nem pequeno, mas de fronteiras mais recortadas. Uma mudança de ponto de vista, digamos, operada por mim mesma, uma espécie de viagem xamânica as minhas próprias visões de mundo. Fiquei meio zonza com todos esses mundos.

Cheguei com tudo acontecendo: providências domésticas, carteira de motorista vencendo, aulas na UFAC começando e os projetos com atividades marcadas. Filtrei o máximo que consegui para poder me poupar minimamente - e quem sabe até curtir a falta de referência que por vezes ameaçava se instalar - mas este universo que me é mais familiar e caro não estava muito disposto a me dar folga. Depois de quase 50 dias fora, ainda precisa de mais tempo? Ora, ora, 'bora cuidar! Mas eu sou boa de rebolado, e ganhei um tempinho aqui e ali. Nesta vitória, parece até feitiço contra a feiticeira, inclui uma licença na UFAC para uma viagem de campo...

Pois é, estou agora em Cruzeiro do Sul. Amanhã sigo viagem para Marechal Thaumaturgo. Do Velho ao Novo Mundo mesmo, agora sem nenhum perspectivismo. Da Civilização para a Selva. Engraçado isso: vim da terra dos colonizadores e vou para a dos colonizados, no caso o alto rio Juruá, região nativa de povos indígenas que no século XIX começaram a receber os brancos chegantes. Muita água rolou, e os brancos que hoje habitam lá, descendentes em sua maioria destes povos nativos e de nordestinos migrantes, mantém relações tensas e contraditórias com seus vizinhos indígenas e a sociedade nacional-mundial a que pertencem.

Parece que na Yorenka Antame tem internet. Se tiver, vou tentar postar de lá.

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