sábado, 20 de setembro de 2008

No Novo Mundo...

O vôo para Marechal Thaumaturgo foi tranquilo, sem sobressaltos, afora a fumaça que era grande. O tempo todo a paisagem esteve enevoada. Parece que o povo começou a tocar fogo por agora.

É verdade, está calor, e os dias calorosos e ventosos são muito bons para tocar fogo no roçado, aprendi com meus amigos seringueiros, que anualmente colocam seus roçados na floresta. Esses roçados, anteriormente esparsados no sistema antigo das colocações, com cada família manejando uma parcela da floresta, parecem agora estar aumentando, principalmente porque as pessoas moram mais concentradas em “comunidades” e, para viver, já criam mais gado e plantam mais. Uma pequena contribuição, é verdade, ao aquecimento global. E é louco quando observamos que a falta de uma política consistente e eficaz para o extrativismo ou pagamento de serviços ambientais – noutras palavras, uma forma de garantir que quem está na floresta possa lá viver com e da floresta – é grandemente responsável por isso.

Pois é, no calor das ruas de Thaumaturgo, que tem poucas árvores e te obriga a andar largas distâncias no sol, as sombrinhas foram as armas que Verinha e eu encontramos para transitar para lá e para cá – que foi o que fizemos hoje, junto com seu Antonio de Paula, que veio conosco, e nossos estimados amigos Francisco e Benki Pianko. Estamos preparando-nos para uma atividade no Centro de Formação Yorenka Antame, criado e gerido pela Apiwtxa, associação dos Ashaninka do rio Amônia.

Algumas coisas a contar, curiosidades do dia. No almoço, tomamos guaraná Baré, refrigerante da Antártica que é encontrado aqui por essas bandas do Juruá, embora hoje tenhamos descoberto que no Ruizão, em Rio Branco, ali no Aviário, tem também. O que tomamos hoje veio já numa peti de dois litros, mas em Cruzeiro encontramos em garrafa de vidro e aquelas tampinhas de metal, à moda antiga (chapinha, acho que chamava). Antigo é o conhecimento que seu Antonio de Paula, velho soldado da borracha, tem com o Baré. Hoje nos contou que quando veio para o Acre, há 58 anos atrás, passando por Manaus tomou seu primeiro Baré – e o gosto, certifica, era igualzinho!

Outra coisa merece uma nota. Aqui, por essas bandas de seringal, “o menino” é quase que uma instituição. Precisa ir na farmácia comprar algo, “o menino” vai; quer uma cervejinha para o almoço e tem que comprar no bar vizinho, “o menino” vai lá comprar pra você; esqueceu o caderno debaixo da rede e a reunião já vai começar, “o menino” pega, pode deixar. Claro que o “o menino” é encarnado por vários meninos que miraculosamente estão sempre por perto na hora de precisão. E se não estão, você grita: “ô, meninooooo!”, e ele aparece. “O menino” em alguns casos pode assumir a forma de “a menina”, mas este caso talvez seja menos institucionalizado.

2 comentários:

Válber Lima disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Mariana,querida,
saudade do Acre, saudade sua, do seu Antonio de Paula, da Verinha, do Francisco e do Benki. Saudade, creia-me, também de Baré. É bom ler seu blog.
Mande um grande abraço meu para todos e diga que espero revê-los em breve.
Fiquem bem e bom trabalho!