terça-feira, 27 de maio de 2008

Pérolas e abóboras

Segundo jornais do sul do país, Lula ontem soltou uma nova pérola. Primeiro disse que a preocupação com a preservação da floresta não pode impedir o desenvolvimento da região Norte. Caso isso não ocorra - o desenvolvimento - corremos o risco de sermos, moradores da região, "segregados" . E arrematou: "Moram lá quase 25 milhões de habitantes, que querem ter acesso aos bens que nós temos aqui no Rio, em São Paulo". Pulei na cadeira: péra lá, seu presidente, eu não!!!!

Querer toda a tralha desfrutada pelos cariocas e paulistas aqui? Hum... Mas a que "bens" estaria Lula se referindo? Carros (disso ele entende)? Eletrodomésticos? Já temos, obrigado. Asfalto, estradas? Bom, aí já tem uma turma que quer (não é a minha turma). Que mais? Eletrificação pra ver TV? Só se não for de hidroelétrica que mata bagre e alaga terras de populações tradicionais, e se não for pra ver TV! Saneamento? Ah, isso é importante. Enfim, a que estaria se referindo o nosso presidente quando fala em "desenvolvimento"? Urbanização? Indústrias? Agrobusiness? Tendo a achar que a cabeça dele vai mais por aí. Se não fosse, ele teria segurado a Marina lá, teria sido mais educado e dado pancada é nos outros, e não nela.

Esta conversa de desenvolvimento vai longe. Desenvolvimento econômico - isto é uma obsessão. Mesmo quando o pessoal faz projeto pra manter a floresta em pé, tá lá: manejo e comercialização e produtos florestais, acesso ao mercado, cadeia produtiva... O projeto nem começou, as populações locais nem sabem direito do que se trata, mas as metas já estão estabelecidas. Olha, não é mole não, e raramente dá certo. Injustiça o que estou dizendo? Talvez, talvez.

Desenvolvimento é o povo feliz. Meios econômicos são justamente isso, meios, e não fins. A finalidade é a felicidade. É aquele menino tão inteligente poder ter a chance de virar cientista; e aquele outro que não suporta ir pra escola, poder ficar na mata ou na roça e se sustentar dignamente. Não é todo mundo rezar na mesma cartilha. Cada um é de um jeito. Fico desolada quando vou no seringal e vejo o povo estudando naquelas escolas, aprendendo Deus sabe o quê e querendo arrumar um emprego. A felicidade é um salário. Escravização voluntária. Será que o Lula quer isso? Todo nós, escravos voluntários do sistemão?!

Tô fora! Tô tentando ao menos...

Pensando bem, não dá pra falar em pérola. Pérolas se criam a partir de grãos de areia, são gestadas no interior de conchas, no mar. Pérolas são formas redondas perfeitas. São lindas. Ah, elas não merecem estar metidas nesses emboglios discursivos. O que o Lula falou foi mesmo um abobral, que me perdoem as abóboras.

2 comentários:

Anônimo disse...

O Presidente Lula tem um aspecto muito interessante: é povão!
Não é difícil imaginá-lo num garimpo como Serra Pelada, camisa amarrada na cabeça, na condição de líder do garimpo, trocando horas de carinho, fazendo espécie num quartinho sujo por uma pepita de ouro, tomando sua pinga, falando alto na mesa de uma taberna, jogando truco...
A vantagem do Presidente parece ser o coração. Sim, ele tem um coração voltado as necessidades do povo. Mas é difícil pensar que um amante das horas movidas à cachacinha brasileira sinta o significado espiritual da derrubada de um carvalho, de mogno, de samaúma...aliás, é difícil que um político que tenha essa noção chegue um dia a ser governador de nação. Mas Roma caiu, e tudo cai um dia. Vamos torcer e cantar com o bom ministro: "A raça humana é uma semana do trabalho de Deus".
Enquanto isso, fiquemos longe do stress de bolsa de valores que corre no sangue de brasileiros e brasileiras, onde quer que estejamos.

morenocris disse...

Pois é. Um homem simples que esqueceu a simplicidade.Mas, Mariana, pergunte à Academia se ela quer sair de seu castelo?

Beijos.