quinta-feira, 27 de março de 2008

Madeirocídio 2


A matança continua. Na semana que passou, no Pará, começaram a aparecer indícios sobre a origem da madeira ilegal que as empresas madeireiras movimentam – e enterram. Novas toras de madeira foram encontradas em Tailândia da Floresta da Amazônia, desta vez enterradas sob um milharal. Novos “corpos” encontrados, num contínuo de acontecimentos que faz com toda situação beire ao bizarro. A quantidade de madeira ilegal apreendida já beira aos 20 mil metros cúbicos. Nem sei como contabilizar isso...

Gente, o negócio fede mesmo... que cheiro será este? De enxofre, diria um amigo que anda fazendo análises políticas repletas de referências bíblicas. De enxofre ou não, o “pixé”, como se diz por aqui sobre o mau cheiro, é forte.

O leitor que me desculpe, mas não consigo não ter nojo de tudo que tenho lido e ouvido. E não consigo me comover com a crise no mercado de trabalho que se abateu sobre Tailândia – era o dinheiro da matança de árvores que sustentava a cidade. Desculpem-me os “tailandenses da floresta da amazônia”: não esperem, por hora, qualquer solidariedade de minha parte. Estou mordida, fera ferida.
E o negócio é ardiloso, repleto de má intenções, acusações e de jogos de palavras – a que uma certa imprensa se arvora em reproduzir. E o correio da má notícia corre solto – e eu devo tomar cuidado para não participar dele.

O que se anda dizendo é que, assim como existem “sem terra”, existiriam os “sem tora”. As informações são meio confusas, mas a idéia é que grupos de posseiros, financiados por madeireiras e munidos de moto-serras, “invadem” áreas de floresta primária e passam a derrubar as árvores a serviço das madeireiras. Não entendi se ficam ou não depois na área, mas talvez sim – só que “sem tora”. São pagos para isso, ou pelas toras. O que quer dizer tudo isso?

Além de confusa, incomodei-me com esta associação inevitável entre “sem tora” e “sem terra”, estes do MST e que costumam sair na imprensa quando ocupam uma fazenda e reivindicam sua desapropriação para fins de reforma agrária. A notíca acima, divulgada num importante jornal paulista (FSP), insinuaria a cooptação de grupos de agricultores (posseiros) por empresas que trabalham na ilegalidade. Mas “sem tora”? Que agricultor se reúne para ocupar uma área visando as toras de madeira? Não consigo acreditar que em posseiros demandando “toras”, e sim terra.

Esta notícia dos “sem tora” veio em meio a uma outra, no mesmo jornal, acusando o Incra de ter criado uma série (mais de 100) assentamentos irregulares no Pará, sem licença ambiental, e suspeitos de esconderem por trás de si interesses madeireiros. Ou seja, cria-se assentamentos não por pressão dos agricultores sem terra (ou posseiros), mas das madeireiras sem tora. É isso: quem é “sem tora” são as madeireiras. Se alguma associação pode ser feita, é a da presença de um Movimento das Madeireiras Sem Tora, mas que, ao contrário do MST, não se declara enquanto tal e age corrompendo agentes do Estado. Como os posseiros entram aí? Certamente, acredito, manipulados, por ambos os lados, Estado e empresas. Ai, este balseiro parece ser dos grandes, cheio de pau pra gente se enganchar!

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