segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O valor de um gesto


Gente, tem uma greve de fome acontecendo. Há já uns 20 dias um religioso protesta contra a transposição do rio São Francisco. Dom Luis Flávio Cápio. Estou comovida com tudo isso. A vida em risco por um rio, por um povo, por um ideal. Coisa rara, coisa rara. Tenho pensado em Dom Cápio várias vezes ao dia, no significado deste gesto nos dias de hoje quando tantos absurdos são pronunciados: projetos mirabolantes que mexem no meio ambiente e com a vida das pessoas de uma forma leviana e irresponsável. E o Dom Cápio e seus fiéis lá no sertão nordestino - sertão guerreiro, desde sempre - lutando contra tudo isso. Ah, de alguma forma estou lá também. E o nome do rio... São Francisco, tem santo mais amoroso?! Santo do santo perdão.

Ah, meu São Francisco, abençoa esta luta, e dá uma força extra ao Dom Cápio e a santa luz a quem acha que tem poder...

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Segue abaixo o manifesto redigido por Leonardo Boff.Várias organizações e movimentos estão distribuindo na busca de apoio. As adesões devem se enviadas a apoio.dom.cappio@gmail.com com cópia para rede@social.org.br

MANIFESTO

Não ao atual projeto de transposição do rio São Francisco.

Pela vida de D. Luiz Cappio, pela vida do rio São Francisco.

Nós abaixo assinados viemos a público repudiar o atual projeto do governo federal da transposição do Rio São Francisco. Esse projeto é faraônico, não é democrático, porque não democratiza o acesso à águapara as pessoas que passam sede na região semi-árida, distante ou perto do rio São Francisco.

O governo alega que vai levar água para 12 milhões de sedentos. O projeto, na verdade, pretende usar dinheiro público para favorecerempreiteiras, o agronegócio, privatizar e concentrar nas mãos dospoucos de sempre as águas do Nordeste, dos grandes açudes, somadas às do rio São Francisco.

A transposição tem muito pouco a ver com a seca. Tanto que os canais do eixo norte, por onde correriam 71% dos volumes transpostos, passariam longe dos sertões menos chuvosos e das áreas de mais elevado risco hídrico. E 87% dessas águas seriam para atividades econômicas altamente consumidoras de água, como a fruticultura irrigada, a criação de camarão e a siderurgia, voltadas para a exportação e com seríssimos impactos ambientais e sociais. Todas estas implicações não foram transparentemente discutidas com as populações envolvidas como os ribeirinhos, os pescadores, os indígenas, os quilombolas e a comunidade científica.

O atual projeto não toma em conta alternativas mais baratas, maisviáveis e mais eficazes para um número maior de pessoas. O projeto oficial custaria mais de 6 bilhões de reais, atenderia apenas a quatro Estados (Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará)beneficiando 12 milhões de pessoas de 391 municípios. Um projeto alternativo elaborado pela Agência Nacional das Aguas (ANA) e o Atlas do Nordeste custaria pouco mais de 3 bilhões de reais, atingindo nove estados (Bahia, Sergipe, Piauí, Alagoas, Pernambuco, Rio do Norte, Paraíba, Ceará e Norte de Minas), beneficiando 34 milhões de pessoas de 1356 municípios. Cabe ainda lembrar a Articulação doSemi-Árido (ASA) que se propõe constuir um milhão de cisternas, tenho já construido 220 mil que atenderia as áreas mais áridas e isoladas da região.

O projeto de transposição vem sendo conduzido de forma arbitrária e autoritária: os estudos de impacto são incompletos, o processo delicenciamento ambiental foi viciado, áreas indígenas e quilombolas são afetadas e o Congresso Nacional não foi consultado como prevê a Constituição. Há 14 ações que comprovam ilegalidades e irregularidades ainda não julgadas pelo Supremo Tribunal Federal. Mas o governo colocou o Exército para as obras iniciais, abusando do papel das Forças Armadas, militarizando a região. A decisão do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, de Brasília, de dez de dezembro deste ano, obrigando asuspensão das obras, comprova o caráter problemático do projeto governamental.

São tais fatos que sustentam o jejum e as orações do bispo de Barra(BA), dom Luiz Cappio, pessoa humilde, aberta ao diálogo e amigo dospobres que há mais de 30 anos convive com os problemas do Vale do São Francisco. Ele está oferecendo sua vida para que o povo e o rio tenham mais vida. Apoiamos seu gesto profético, digno dos discípulos de Jesus.A alternativa do Presidente Lula é falsa: entre os pobres e o bispofico do lado dos pobres. A verdadeira alternativa é: entre os pobres e o hidronegócio nós ficamos do lado dos pobres.

Um comentário:

Anônimo disse...

Viva o Mar de Aral...
Responsabilidade é coisa séria, muito séria.