sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Sobre planos de manejo, Caipora e outros mistérios

Esta semana participei da qualificação da Renata Teixeira, aqui do Mestrado em Ecologia e Manejo da UFAC. Gostei muito do projeto dela, e de participar da discussão com os outros professores presentes. A Renata quer tratar de uma questão das mais relevantes no contexto atual: qual o papel do manejo madeireiro nas decisões que os seringueiros que dele participam passam a fazer sobre o uso de suas propriedades (colocações)? Lendo o projeto que foi examinado, me chamou atenção o termo “plano de manejo”. Na verdade, não é de hoje que já tinha tido minha atenção desperta: conversando com os seringueiros manejadores lá do São Luis do Remanso já pensara coisas parecidas com o que está logo aí abaixo.

O mote é o seguinte: que novidade é esta do “plano de manejo”? Da onde vem isso? O que ele introduz? Até que ponto ele é mesmo uma novidade? Ou o que nele é novo? Não sei falar de tudo o que pergunto – afinal, são perguntas – mas tenho algumas idéias, em especial sobre o “manejo seringueiro”.

É de domínio público e comprovado que o manejo seringueiro da borracha e da castanha ao longo desses mais de cem anos demonstrou ser extremamente seguro para a floresta – e isto não é obra de cientistas, e sim de moradores da floresta, indígenas incluídos. O manejo da fauna, pesca, madeiras, palhas etc, para fins de subsistência e dentro do sistema de colocações também é altamente eficiente. Nesse contexto de manejo florestal seringueiro, qual o elemento novo? Madeira para comércio, carne de caça para venda, copaíba para venda e por aí vai – ou seja, novos produtos, novas escalas, novas tecnologias, novas finalidades para produtos já conhecidos. E aí vem o nome: “plano de manejo”. Para quem não conhece e é novo na história, parece que as populações florestais agora finalmente estão acessando métodos de planejamento do uso da floresta.

Tem uma questão de fundo bem interessante nisso tudo sobre conhecimentos tradicionais e técnico-científicos. Quando um autor como Wyatt-Smith afirma que manejo florestal é “explorar a floresta de um modo a prover rendimento sustentado dos produtos florestais, sem destruir ou alterar radicalmente a composição e estrutura da floresta como um todo” (apud Teixeira de Oliveira), fico me perguntando em que esta definição seria incompatível com o manejo tradicional seringueiro... Lembrei-me da fala da professora Manuela Carneiro da Cunha sobre o equívoco que é achar que a ciência hegemônica, na sua interação com os conhecimentos tradicionais, vai legitimá-los.

Quais as interfaces entre o manejo seringueiro e o novo manejo? As novas técnicas de manejo são capazes, por exemplo, de assegurar a colocação como um sistema? Ou, ainda, garantir a sobrevivência de um manejo tradicional compatível com o novo? Ou seja, o novo ajuda a sobrevivência do tradicional? Consideremos ainda que para o seringueiro o manejo da floresta nunca foi uma questão puramente técnica. Parece que os seringueiros, produzindo borracha, mantinham acordos tácitos com a Mãe da Seringueira, e isto não é crendice, ingenuidade ou coisa que o valha. Isto é visão de mundo, isto é um mundo extremamente real, para quem o vive. É possível manejar (técnico-cientificamente) fauna, por exemplo, considerando o papel do Caipora na proteção das caças? No caso da madeira, que universo simbólico a cerca?

A madeira é comumente apresentada como um produto a mais a ser explorado no cardápio de possibildades que a floresta oferece, inserindo-se no tradicional sistema produtivo da colocação. Hum, não sei. A madeira não é um produto qualquer, sua inserção é um diferencial forte: tanto porque há polêmicas políticas e técnicas em torno do manejo madeireiro e sua sustentabilidade, quanto porque acredito que ela não é um produto extrativista da mesma forma que a borracha, por exemplo. A madeira tem um mercado consolidado e ávido. Tem preço, desde que se encontre o nicho e comprador certo, o produto seja beneficiado com qualidade, e também que se tenha tempo e algum capital para aguardar o retorno do investimento. Sua cadeia produtiva é longa e cara. Do momento que o produto sai da colocação do seringueiro até retornar em dinheiro, muita coisa se passa, muitas etapas são cumpridas, muito dinheiro é gasto. A não ser que se venda a madeira em tora: tirou, pagou.

Outro termo que parece caminhar junto com o de “manejo florestal” e faz parte de seu arcabouço: “produtores florestais”. O que é isso? O que esta idéia sugere? Uma nova perspectiva, um novo olhar sobre as populações florestais e também sobre a floresta. Tem a ver com rendimentos monetários e com o viver da floresta, sem derrubá-la. Tenho a impressão que junto com ela vem uma idéia de pequeno empresário florestal moderno: aquele que olha a floresta como um conjunto de recursos e a explora visando o máximo rendimento sem comprometê-la como fonte renovável. A floresta como um bom negócio. Mas, repito, e o Caipora?

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu tenho uma idéia fessora. porque a gente não chama o Jorge, o Binho, o BID, a Marina, a senhora e propoe o seguinte: vamos fazer diferente. vamos dar uma de doido como o doido da Venezuela e o outro da Bolivia. Vamos pegar este mega emprestimo do BID e fazer assim: a gente paga agora R$ 4,00 ou até R$ 5,00 por quilo de borracha. A gente demarca as Resex, as TI tira da mão dos especuladores da terra. Beleza. depois a gente cria um sistema bacana de transporte para escoar a produ~ção por água. Como antes. E para com essa porcaria de BR 317 detonando tudo. depois a gente cria escola, contrata medico, professores de verdade e paga pra eles assistirem nossos seringueiros. To falando serio. e resumido. Uma coisa é certa. Na verdade duas. A primeira: mercado pra esta borracha não vai faltar. segundo: vai ter muita gente voltando pra mata, vai diminuir o desmatamento e vamos de fato preservar mais que hoje em dia com nossos megaprojetos de conservação. Gostou???? Mas e se o preço pago pelo quilo for maior que o preço da venda??? sem problema a gente subsidia como os paises grandes fazem com a agricultura deles. e a gente mantém as matas em pé, o seringueiro feliz e acaba com essa palhaçada de manejo madeireiro e agropecuária. um dia eu tomo coragem e conto tudo que eu sei sobre a porcariada que é este manejo florestal madeireiro. seja ele comunitario ou empresarial.