O papo hoje é sobre uma viagem recente que fiz. Passei quase todo o mês de setembro nas águas do rio Tejo, afluente do alto rio Juruá, hoje município de Marechal Thaumaturgo. Vou contar aqui um pouco do que vi e ouvi.
A primeira parada, vindo de Cruzeiro do Sul, foi na sede municipal. Lá, por três dias esperei uma passagem para subir o Tejo, e enquanto isso fui encontrando, a cada instante e esquina, antigos conhecidos do seringal, ex-moradores da Reserva Extrativista do Alto Juruá que se mudaram para a “vila”. Ora, Mal. Thaumaturgo já não é tão pequeno assim. Seus modestos e aproximados três mil habitantes não revelam por si o quanto a localidade vem mudando: ruas e ramais adentram o território municipal, sempre acompanhados do que parece ser um processo inevitável quando o assunto é “desenvolvimento”: o desmatamento. Chegando de avião é possível observar áreas abertas no interior e também nas margens do rio Amônea. E a coisa não pára. Tanto na ida quanto na volta, vi máquinas trabalhando, abrindo e terraplanando ruas, postes de luz sendo firmados, escavadeitas cavucando. Coisas de cidade...
Outra coisa de cidade: o lixo. O que fazer com o lixo? Em Mal. Thaumaturgo não há um aterro sanitário adequado, como deveria haver numa área tão ricamente biodiversa e considerada uma prioridade de conservação. Seus moradores e a natureza deveriam ter direito a isso: uma solução adequada para o lixo. Murilo, meu companheiro de viagem, filósofo e brasiliense, e morando por hora na sede dando aulas numa escola local, teve uma aventura recente na vila batendo-se pelo depósito dos couros de boi abatidos em outro local que não às margens do rio Amônea. Depois de uma sessão na Assembléia Legislativa, com a presença de seus alunos, vereadores e do vice-prefeito, o poder público assumiu a responsabilidade de recolher os couros para o lixão da cidade.
Mas não é só isso. O lixo muda. Quanto mais urbana Marechal Thaumaturgo se torna, mais seu lixo também se urbaniza, mais contempla artigos industrializados, mais plásticos passam a fazer parte do que deve ser descartado na natureza. A questão dos resíduos sólidos poderia ser acrescentada à das condições sanitárias e da poluição das fontes d’água. O que está acontecendo aos igarapés de Thaumaturgo? Há um maior, que desagua no rio Juruá, hoje praticamente um esgoto. E os outros? E as cacimbas, como convivem com as privadas? Perguntas incômodas, perguntas necessárias.
Mas por que mencionar apenas esses aspectos negativos? Em primeiro lugar, porque eles existem. Em segundo lugar, porque são relevantes. Não são exclusivos de Mal. Thaumaturgo, é verdade, mas estão lá. Claro está que esses aspectos não são o Município e que seus moradores têm apreço pelo seu local de moradia, e que por isso mesmo talvez esses temas deveriam ser uma prioridade na agenda municipal. Por que Mal Thaumaturgo não pode ser um município modelo em saúde pública e meio ambiente? Por que não?
Bom, vamos em frente, subamos o rio Tejo finalmente!
(para ler o artigo na íntegra, acesse a coluna Papo de Índio, publicada aos domingos no jornal Página 20, aqui em Rio Branco)
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