"Experimentei uma sensação extremamente agradável de paz e satisfação; o mundo naquele momento parecia estar à vontade. A tranquilidade era divina e, ao mesmo tempo, enervante. Eu não estava acostumado com aquele tipo de silêncio. Tentei falar, mas ele me ordenou que me calasse. Depois de algum tempo, a tranquilidade do lugar afetou meu estado de espírito. Comecei a pensar em minha vida e minha história pessoal e tive uma sensação conhecida de tristeza e remorso. Falei que eu não mereceia estar ali, que o mundo dele era forte e justo e eu era fraco e que meu espírito tinha sido desviado pelas circunstâncias de minha vida.
Ele riu e ameaçou cobrir minha cabeça com terra, se eu continuasse a falar aquelas coisas. Disse que eu era um homem. E, como todo homem, eu merecia tudo o que fosse destinado ao homem – alegria, dor, tristeza e luta – e que a natureza dos atos da pessoa não tinha importância, enquanto ela agisse como guerreiro.
Baixando a voz até quase um sussurro, ele disse que, se realmente achava que meu espírito estava desviado, eu simplesmente teria que endireitá-lo, purgá-lo, fazê-lo perfeito, pois não havia nenhum outro trabalho em todas as nossas vidas que valesse mais a pena. Não endireitar o espírito era procurar a morte, e isso era o mesmo que não procurar nada, desde que a morte nos alcançará, não importa o que acontecer."
(Viagem a Ixtlan, Carlos Castaneda)
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