
Mas gostaria aqui de antes chamar atenção para algo bem interessante que aconteceu, e o que poderia ser um incômodo fruto de uma incapacidade individual transformou-se numa situação cuja solução foi encontrada pelo coletivo dos presentes. Nosso palestrante falou em francês, com um tradutor a seu lado. Ao início tudo correu bem. A parte inicial da palestra, densa de relatos e tradições orais, já tinha sido traduzida para o português, e nosso tradutor leu o texto de forma pausada e tranquila. Aí entrou em cena o Dr. Boubacar, com seu francês melodioso e calmo, para dar tempo ao tradutor de fazer o seu trabalho. Logo problemas começaram a aparecer: para quem entendia um pouco de francês (como eu, viva!), era perceptível que algo estava se perdendo; para quem entendia bastante, a situação foi ficando insustentável e interferências e correções começaram a ser feitas da platéia. A coisa foi indo de um jeito que uma dessas pessoas foi por nós, público ali mais próximo, indicada como co-tradutora ad hoc da palestra. E assim seguimos, agora mais confiantes. Mas traduzir cansa, e nossa recém-nomeada tradutora não dispensou o tradutor-veterano, chamando-o para um trabalho conjunto. E assim fomos indo. A situação ficou um pouco mais complexa na hora do debate: eram dois microfones para quatro falantes: o palestrante, os dois tradutores e o público participante. Mas tudo arranjou-se, e até o Gérson ajudou nesta movimentação e arranjo.
O que achei interessante nisso tudo foi que, para ouvirmos o Dr. Boubacar, que veio de tão longe para conversar conosco, tivemos que trabalhar em equipe: o paletrante pacientemente assistindo a tudo que ocorria sem dar o menor sinal de alteração; todos os presentes redobrando a atenção para entender idéias que iam sendo traduzidas por mais de uma pessoal, o que implicava em correções frequentes; o tradutor-veterano assumindo que era leigo no assunto (não na língua) e redimensionando sua participação; a tradutora-nomeada se dispondo a sair de sua posição de público e conosco socializar seus conhecimentos de francês e também do assunto; e o rapaz que traduzia para uma moça da platéia tudo que era dito para a linguagem de sinais dos surdos e mudos - bom, este trabalhou bastante dada a quantidade de fatos inusitados que tiveram lugar, com suas idas, vindas e reparos. Saí antes de acabar, lamentando ter que o fazer: estava, de fato, tudo muito interessante.
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