Foi mais ou menos nesses termos que minha amiga Bia Saldanha, chegando no Alto Acre, Município de Assis Brasil, definiu o quadro que encontrou: “Mariana, os seringueiros estão em extinção!”. Como boa “soldada da borracha” que é, Bia estava quase que alarmada: fora lá para reuniões comunitárias com moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes conversar sobre uma demanda de borracha para calçados ecologicamente corretos, e encontrou pouca gente interessada em cortar seringa...
Os mais velhos, bom, estão mais velhos, têm vontade mas o vigor físico já não é o mesmo; os mais novos, jovens, já não se interessam pela ancestral atividade de seus pais e avós. Restam os resistentes seringueiros, aqueles que têm amor mesmo pela atividade e que respondem de imediato a um pagamento que valorize o seu trabalho. Resultado: a demanda de borracha que, esperava-se, iria ser sanada em Assis Brasil, terá que ser complementada noutros seringais.
Lá no Alto Juruá, na Reserva Extrativista de lá, o quadro não é muito diferente. Seringueiros que cresceram na lida e hoje estão mais dedicados a agricultura e pecuária afirmam que não voltariam a cortar. Por que? – “Voltar a morar no centro?”, respondem, “sem escola, sem posto, longe da margem?”. Não, obrigado, respondem. Esta conversa não é unânime, mas é uma das tendências reinantes. Na verdade, acredito que além do baixo preço pago pelo trabalho do seringueiro, a atividade carece de prestígio. Qual jovem vai se interessar em especializar-se numa atividade mal paga e desprestigiada?
Os mais velhos, bom, estão mais velhos, têm vontade mas o vigor físico já não é o mesmo; os mais novos, jovens, já não se interessam pela ancestral atividade de seus pais e avós. Restam os resistentes seringueiros, aqueles que têm amor mesmo pela atividade e que respondem de imediato a um pagamento que valorize o seu trabalho. Resultado: a demanda de borracha que, esperava-se, iria ser sanada em Assis Brasil, terá que ser complementada noutros seringais.
Lá no Alto Juruá, na Reserva Extrativista de lá, o quadro não é muito diferente. Seringueiros que cresceram na lida e hoje estão mais dedicados a agricultura e pecuária afirmam que não voltariam a cortar. Por que? – “Voltar a morar no centro?”, respondem, “sem escola, sem posto, longe da margem?”. Não, obrigado, respondem. Esta conversa não é unânime, mas é uma das tendências reinantes. Na verdade, acredito que além do baixo preço pago pelo trabalho do seringueiro, a atividade carece de prestígio. Qual jovem vai se interessar em especializar-se numa atividade mal paga e desprestigiada?
É grave e pesarosa esta notícia, a da extinção. Algo precisa ser feito. Coisas como aumento do louvável subsídio do governo estadual, que estancou nos R$ 0,70 há muito tempo. Ou o apoio de verdade ao projeto da Folha Líquida Defumada (FDL), desenvolvida pelo professor Pastore e sua equipe na UnB, que já implantou muitas unidades de produção nas florestas do Acre, mas que luta ainda com a falta de apoio e interesse dos governos. A FDL (foto acima) é uma borracha puríssima, de alta qualidade, produzida dentro da floresta e que dispensa a etapa de usinagem, ou seja, pode ir direto para a fábrica – uma maravilha! Há promessas de um convênio, por exemplo, com o governo do Acre – demorou!
Será que a seringa já é um símbolo do passado? Acho que ainda não, mas temos que cuidar, e logo! Na verdade, já perdemos foi muito tempo com tantos projetos de recursos vultuosos – como o Resex, do Plano Piloto (PPG-7 via Banco Mundial) – e que foram incapazes de dar um apoio sério e contínuo para o extrativismo tradicional da borracha, vocação natural deste Acre véio, que tem suas fronteiras demarcadas pela incidência desta fantástica árvore que é a Hévea brasiliensis. Se todo este dinheiro tivesse sido investido na melhoria do processo produtivo e no incremento de preço da borracha, garanto que tinha muito mais floresta em pé e muito mais seringueiro nessas matas.
Trabalho digno o do seringueiro. Quem quiser detalhes, tem um texto lindo na Enciclopédia da Floresta, organizada pela Manuela Carneiro da Cunha e por Mauro Almeida, publicada em 2002 pela Cia. das Letras. Lá, Mauro e Laure Emperaire contam com detalhes todo o conhecimento que a atividade envolve. Vale conferir, e ingressar neste exército de soldados da borracha, junto com a minha estimada amiga Bia.
2 comentários:
Questão de mercado, talvez. Os seringueiros sempre foram explorados mas, por incrível que pareça, houve quem conseguisse algo mais que o sustento nesse ofício. O fato é que quando a decadência atinge alguns setores decreta, para uns, morte a longo prazo (caso dos seringueiros), enquanto que para outros é vapt vupt: mude de ramo imediatamente, essa atividade é extinta.
Oi Mariana
Agora que vi essa notícia. Que pena, pois fiquei bem animada com as perspectivas de retomada da atividade, com a visita da Bia Saldanha aos seringais.
Mas penso que os seringueiros, ou os ex-seringueiros estão fazendo aquilo que todo mundo faz. Antes, como diziam, os pais ensinavam os filhos na lida da seringa, porque era "o futuro" deles. Agora eles fazem o mesmo, e o "futuro" desses meninos, pensam eles, está na educação, que, se não garante nada, pelo menos aponta possibilidades.
Qual o "futuro" que a borracha pode oferecer aos filhos dos seringueiros?
Um desafio para nós..
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