sábado, 6 de agosto de 2011

Na fronteira, bravos brasileiros resistem - você sabia?

A notícia é grave.

Na fronteira do Brasil com o Peru, lá no Envira, uma situação bizarra, dramática e revoltante está ocorrendo agora. A Terra Indígena demarcada para os índios isolados foi invadida por mercenários peruanos fortemente armados e no posto avançado da Funai que lá existe, cinco brasileiros estão sitiados: dois sertanistas (José Carlos e Arhur Meirelles, pai e filho), o coordenador da diretoria de índios isolados da Funai em Brasília (Carlos Travassos) e dois mateiros (de apelidos Marreta e Chicão). Todas estas pessoas são absolutamente comprometidas com a proteção dos índios isolados contra um contato prematuro e não desejado por eles. Estão trabalhando nisso há muito, este é o trabalho de suas vidas.

Para saber melhor sobre os acontecimentos, clique aqui e aqui. Um desdobramento de hoje aqui no Acre está aqui. Mas mais agora a noite, por telefone da cidade de Tarauacá, onde está a corajosa documentarista Maria Emília Coelho, tivemos a notícia alarmante de que numa das mochilas que a equipe da Funai achou nas proximidades da base estavam flechas de índios isolados... O que isso pode estar significando? Uma matança desses povos?

Que fazer, que fazer? Divulgar, dar a conhecer, é o que me ocorre. Gostaria de ter canais mais influentes, mas talvez algum leitor tenha.

Por hora, deixo vocês com os emails do Meirelles que chegaram de lá do alto rio Envira nesses dois últimos dias.

Dia 5 de agosto

“A todos companheiros de luta e família,

Como o tempo é curto e é muita gente, me desculpem misturar familiares e trabalho.

Como todos sabem a nossa base do Xinane foi invadida por um grupo paramilitar peruano, onde foi preso por uma operação da polícia federal, um único integrante. O famoso Joaquim Fadista, que já tinha sido pego aqui por nosso pessoal, foi extraditado e voltou. Com um grupo de pessoas cuja quantidade não sabemos.

A operação foi muito rápida e hoje todo mundo foi embora. Nossa base ficou só de novo.

Já que ninguém deste Estado brasileiro se dispõe a ficar aqui, tomamos a decisão, Carlos Travassos, coordenador dos isolados, Artur coordenador da frente, Eu, e dois mateiros nossos, Marreta e Chicão, de vir prá cá.

Fomos deixados pelo helicóptero da operação.

Os caras ainda estão por aqui. Correram quando o helicóptero chegou. Rasto fresco e cortado de hoje. Se o povo da PF ou exercito estivesse aqui a gente pegava todo mundo.

Mas parece que as coisas não são bem assim. Talvez se esse grupo tivesse invadido algum canteiro de obra o PAC, metade do exército já estaria lá.

Mas como é uma basezinha da Funai, área de índios isolados…

O fato é que aqui ficaremos até que alguém ache que uma invasão do território brasileiro por um grupo paramilitar peruano, é algo que mereça atenção.

Somos irresponsáveis. Talvez. Mas antes de tudo existe um compromisso maior com os índios isolados e os contatados nossos vizinhos Ashaninka.

Não temos resposta pra tudo isso. Mas estamos bem perto das perguntas.

Permaneceremos aqui. E nem venham nos buscar para abandonar a base de novo e nem venham aqui passar dois dias.

Se vierem venham pra resolver o problema.

Caso contrário, a gente mesmo vê o que faz.

Um abraço a todos”


Dia 6 de agosto

“A todos,

Vocês já sabem das notícias. Vão as últimas.

Desculpem por mandar pra todo mundo, mas o tempo pra ficar no notebook aqui tá curto. Um olho na tela e outro nos peruanos não dá.

Seguinte:

1 - Pela quantidade de vestígios aqui ao redor, temos certeza que os caras se dividiram em grupos de 5 ou 6 e estão fazendo uma verdadeira varredura aqui ao redor da base.

2 - Os isolados não andaram aqui não. As coisas que desapareceram daqui indicam que não foram eles.

3 - Cremos também que junto desses peruanos existam índios sim, contatados de lá.

4 - A gente conhece apito de índio remedando bicho. Parece que tem uma reunião de nambú azul aqui por perto.

5 - Se esses caras estão procurando alguma coisa, ainda não acharam.

6 - Todo mundo que está aqui ( nós cinco gatos pingados) é manso na mata, como eles.

7 - O nome de nosso dois mateiros: Francisco Alves da Silva Castro o Marreta. Francisco de Assis Martins de Oliveira - O Chicão.

8 - O dia que a Funai descobrir que um homem como eles, valem por 20 indigenistas e 20 sertanistas, talvez resolva contratá-los, sem concurso público, pois são analfabetos, mas os maiores doutores da mata que conheço, talvez a segurança dos índios isolados possa ser melhor conduzida.

Permaneceremos aqui, dê o que dê, até que o Estado Brasileiro decida RESOLVER DE VEZ esse absurdo!!!! Não pra proteção nossa.

PARA PROTEÇÃO DOS ÍNDIOS!!!!!!

Quem não tiver atualizado, por favor procure sites e tal que já tá no mundo.

Quem puder reclamar, pressionar etc., será bem vindo. Os isolado agradecem.

Um grande abraço a todos da nossa equipe de ” irresponsáveis”, como estamos sendo chamados.

Pensem bem: Quem é o irresponsável mesmo.

Meirelles”

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