quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Passeio na BR

Neste último fim de semana, querendo fugir um pouco da capital e descansar no interior, saímos, Zé Carlos e eu, rumo a Xapuri. Nosso objetivo: a Pousada Villa Verde, dirigida pelo Micheli, um italiano radicado nessas terras e casado com uma xapuriense, muito conversador e bom anfitrião. Vale com certeza ir até lá conferir. Mas aqui o objetivo é outro: contar o que fomos vendo ao longo do percurso, ao longo da BR 317, a nossa "transoceânica", que nos liga ao Peru e Bolívia, e que corta grandes extensões do que já foram um dia florestas maciças. Hoje, bom, ao longo da BR, no trecho Rio Branco-Xapuri, eis o que vimos:

Saindo de casa pela Via Verde, ainda em Rio Branco, logo topamos com o amigo aí na frente...


Da onde vinha e para onde ia? Boa pergunta. Paradoxal foi vê-lo numa via por nome "verde" e cruzando com a placa abaixo. Estamos realmente cuidando da vida, ou de que vida? A viagem prometia ser emocionante para uma reflexão desta ordem.


Ultrapassamos o caminhão e seguimos, logo pegando a estrada para o Quinary, que está sendo duplicada e que tem trechos incrivelmente mal sinalizados. Mas o asfalto, onde já foi colocado, impressiona, desliza-se suavemente. Velozes então seguimos, logo estávamos na BR 317, agora rumo a primeira cidade depois da simpática Senador Guiomar (ou Quinary): a deflorestada, segundo afirmam estatísticas que já li em algum lugar, Capixaba.


Logo topamos com o símbolo do desenvolvimento rural em São Paulo, na região conhecida como Califórnia Brasileira: cana-de-açucar, aquela que o Lula dizia que não ia chegar na Amazônia de jeito nenhum, só se passasse por cima dele. Parece que passou, pois depois ele alizou o discurso, e lá está a usina do Grupo Farias, que já teve mil percalços com o Ministério Público, não sei como está agora, mas a cana está lá, sim, senhor!


Não foi a primeira vez que passei ali, tenho fotos inclusive de quando a terra estava sendo preparada para o plantio. E todas as vezes sinto um incômodo: me sinto num Globo Rural. Isso, paisagem rural, e não florestal. E lá estão as castanheiras, sempre elas, que insistem em denunciar sua lenta e dolorosa morte; antes no pasto, agora no canavial. Sinto um cheiro de São Paulo, daquilo que por lá chamam "progresso", e que aqui ficam nos vendendo, com suas usinas, estradas, perfurações petrolíferas & Cia. Interessante ainda porque em alguns trechos, do outro lado do asfalto, lá estão seringueiras cultivadas, ou seja, que foram plantadas em algum momento da nossa história.

Não acredito que estejam economicamente ativas, mas estão lá formando um simpático bosquezinho e contrastando com o canavial em frente. Tentamos domar a floresta e, pelo visto, não conseguimos, e lá está um dos símbolos da colonização (e destruição) da Mata Atlântica: a gostosa cana, pois, admitamos, a bichinha é gostosa, dá garapa, rapadura, mel... e alcool, biocombustível do momento!

`Bora em frente!

Ah, sim, a eletrificação que acompanha a BR, torres e postes pra todo lado. Bom, deve ser bom ver a luz chegar em casa, substituir a lamparina, ligar a geladeira, a TV, o computador, deve ser bom, quer dizer, serão poucos os que dirão que é ruim. Muito poucos. Eu mesma, gostaria. O duro é quando a gente fica pensando da onde vem a energir que passa ali, como é gerada, se é limpa ou não. Sei é que aqui queimamos muito diesel para ter luz na floresta, ou no que resta dela. Contradições...

E o nosso bom e velho gado e as fazendas e pastos, que são A paisagem da BR. O povo do Rio Grande do Sul quando anda por ela deve achar o máximo, disse uma amiga gaúcha quando andou por aqui: tudo colonizado, domesticado, muita terra para criar e plantar. Não são só os gaúchos, né, que gostam desta paisagem. Nós, acreanos, também gostamos. Bom, eu não gosto, mas sou "acrioca"! Acho bucólico, não tenho nada contra os bois e vacas, muito pelo contrário, nem como a carne deles por respeito a vida e protesto contra a destruição da floresta e a mercantilização da vida desses animais. Só que fazenda, fazenda, fazenda, uma atrás da outra, é meio demais. A floresta? Bom, lá no horizonte, cada vez mais longe do asfalto, com pontos onde ela nem ao menos é visível. Meio demais, né?

Já dentro do município de Xapuri passamos pela fábrica de pisos e tacos. Imensa, chaminé com fumaça mas muito pouco movimento do lado de fora. Será que já estã realmente funcionando? Com que madeira? Bom, tá lá a bichona, toda bonitona, veja aí embaixo. Se alguém estiver mais bem informado sobre seu funcionamento, por favor, dá uma palhinha aqui no blog pra gente.

Finalmente, já na Estrada da Borracha, que sai da BR e nos liga a Xapuri, topamos com talvez a melhor notícia para a floresta nos últimos anos: a fábrica de preservativos Natex! Viva a borracha, pessoal! Fiquei com muita vontade de entrar e conhecer. Sou fã desta fábrica, que me parece uma solução inteligente para um produto que temos em abundância: ou seja, camisinha é sempre um bom negócio, o povo gosta de trepar, não tem jeito, e estamos em tempos de DSTs e controles de natalidade. Por outro lado, látex é o que temos para oferecer sem precisar de grandes mirabolâncias.

Bom, era isso que queria contar. Fiquei mesmo com vontade é de andar na BR 364, aquela que vai para Cruzeiro do Sul, rasgando florestas e cruzando rios. O que será que anda se passando ao longo dela?

Um comentário:

CHRISTINA MONTENEGRO disse...

Fabulosa reportagem.
Tomara Marina Silva veja; tomara ela (ou quem quer que seja veja) e sirva para refletir e agir melhor em relação a esse maravilhoso Acre.