
A pergunta inicial foi: o que acontece com uma floresta submetida a anos de seca? Ou seja, o que aconteceria com a floresta numa situação de aquecimento global e mudanças climáticas decorrentes? Escolheu-se então uma área de floresta (cerca de um hectare) não tão aleatória assim, isto é, que fosse representativa de um tipo de vegetação florestal predominante na região amazônica, que em seguida foi como que lacrada: mais de 5.500 painéis de plástico de 3 x o,5 metros foram estendidos sobre a área, impedindo que a chuva chegasse ao solo. Paralelo a isso, foram construídas torres para observação do dossel e cavados poços para fazer o mesmo no subsolo, onde estão as raízes mais profundas e depósitos de água. Simulou-se então cinco anos de seca severa. Para ter um padrão de comparação, uma área similar e não coberta com os painéis (mas com poços e torres) foi tomada como controle, sendo analisada também ao mesmo tempo.

* Nos dois primeiros anos, a floresta lacrada resistiu bem à seca artificial, mas a copa das árvores encolheu cerca de 20%: folhas novas deixaram de nascer ("pra que ter menino se não há condições adequadas?"). Com isso, mais luz penetrou na área, contribuindo para a secagem do solo e tornando-o mais suscetível a incêndios.
* Já no primeiro ano, as árvores pararam de crescer ou reduziram a taxa de fotossíntese, responsável pela retirada de gás carbônico da atmosfera. Uma razão provável e direta para isso seria a dificuldade das raízes encontrarem água no solo. Diante da falta d´água, o ciclo da floração e dos frutos também foi afetado. Quatro anos depois de iniciado o experimento, os frutos tornaram-se mais leves e quase sem sementes, comprometendo ainda mais a capacidade de reprodução das espécies.
*A situação só não se tornou excessivamente trágica porque as raízes profundas permitem às árvores buscar água a até 11 metros de profundidade e porque existe um mecanismo de "redistribuição hídrica" natural desempenhado pelas raízes: retira-se água das regiões mais profundas e úmidas e irriga-se aquelas mais superficiais e secas. Este trabalho é feito pelas raízes mais profundas em parceria com a trama de raízes que existe na superfície do solo, garantindo assim água para as grandes árvores mas também para suas vizinhas menores. Esta "redistribuição hídrica" também opera ao inverso, ou seja, quando há excesso de água na superfície (período de chuvas), estas são canalizadas para reservatórios nas áreas mais profundas, e lá ficam como reserva. Não é maravilhosamente incrível?! Agora, imagina o que isso significa numa situação de desmatamento: seus efeitos perversos são multiplicados... Na situação de seca simulada, após cinco anos as reservas de água profundas tinham baixado em quase 90%.
* Sem água, as árvores finalmente começaram a morrer, principalmente as maiores, ou seja, as de maior biomassa. Um ano depois que os painéis de plástico foram removidos a mortalidade continuava ainda elevada. O estoque de carbono da floresta foi assim comprometido: a produção de madeira na área experimental foi 33 toneladas menor do que na área sem painéis, e a produção de matéria orgânica morta foi 47 toneladas maior. Conclusão: se uma situação de seca severa se mantém e expande, de sumidouro a floresta amazônica poderia se transformar em grande emissor de gás carbônico! Qual a situação hoje? Outros estudos do LBA indicam que há um equilíbrio entre emissão e absorção.
Como se sabe, situações de equilíbrio são também situações de potencial desequilíbrio.
Um comentário:
Com uma inteligência tão exuberante clamando por pesquisas e verbas, os homens insistem em procurar vestígios de vestígios de micróbios marcianos...algumas das prioridades humanas são deveras risíveis. É a divina comédia.
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