domingo, 29 de julho de 2007

Cerco na fronteira

Um caminho na floresta. Uma estrada ilegal. Cruzando a fronteira do Brasil e do Peru, na região do Alto Juruá, invadindo territórios indígenas e unidades de conservação, uma madeireira peruana, a Florestal Venao SRL, dá seguimento a ações de exploração que, denunciam os Ashaninka da Terra Indígena Kampa do Rio Amônea (Brasil), vem desde 1999. As denúncias atuais, em carta divulgada hoje pela Apiwtxa (ver abaixo), chama atenção pela cooptação de parentes Ashaninka que vivem no lado peruano pela Venao.

Lembrei-me imediatamente do caso de Rondônia. Há uns dois anos, um amigo que é engenheiro florestal, fazendo uma avaliação da situação dos planos de manejo madeireiros das Reservas Extrativistas Estaduais lá existentes, contava-me que a elaboração desses planos tinha sido financiada por madeireiras locais mediante pagamento futuro com as árvores a serem "manejadas". Resultado: planos de manejo sequer aprovados e as associações dessas Reservas completamente endividadas e com os recursos madeireiros exploráveis comprometidos com dívidas. Não é preciso dizer que toda essa história tem casos de cooptação, corrupção e violência, inclusive com vítimas fatais. Até onde acompanhei o desenrolar, o Ministério Público entrou pelo meio, os planos foram considerados irregulares, mas não sei como ficou exatamente...

Mas voltando ao caso recente, a empresa Venao não só está "apoiando" grupos indígenas na elaboração de "seus" planos de manejo madeireiros, como também a criação de territórios indígenas na fronteira Brasil-Peru, onde provavelmente novos planos serão elaborados...

Em julho, quando estive em Marechal Thaumaturgo, chegou a notícia de que um sobrevoo do Ibama, acompanhado do professor Isaac Ashaninka, encontrara sinal da retomada da exploração madeireira não só na Terra Indígena Kampa, mas também avançando na vizinha Reserva Extrativista do Alto Juruá, na direção das cabeceiras do rio Arara. Também tivemos notícia de que na fronteira sul com o Peru, no rio Breu, esse mesmo tipo de ação estava em curso. Estávamos sendo cercados - foi a sensação que ficou. No Rio Envira, mais a leste do Juruá, o chefe da Frente de Proteção dos Índios Isolados denuncia que estes estão sendo acossados por invasões peruanas e penetrando em Terras Indígenas de outras etnias, o que pode vir a acarretar conflitos entre esses grupos.

Que fazer? Que fazer? Mais medidas diplomáticas, mais prisões de "peruanos", queima de acampamentos - e assim com um chicote nos iludimos que o leão está sob controle. Foi com respeito que ouvi, mesmo sem entender, o veemente discurso do chefe Ashaninka Antonio Pyianko ao governador do Acre, Binho Marques. Com seu arco e sua flecha ele riscava o chão, batia no chão, protestava e parecia dizer que se as autoridades nada fizessem, os Ashaninka fariam. Não sei se foi isso que ele disse, sei que permaneceu sério todo o tempo, e não achou graça quando Binho se referiu a "bronca" que havia tomado do chefe indígena.

Para saber mais e ler na íntegra a carta abaixo, visitem http://apiwtxa.blogspot.com/
Acesse também: http://altino.blogspot.com/



Carta da Comunidade Apiwtxa sobre as invasões na fronteira Brasil/Peru

Nós, Asheninka da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, uma população de 400 habitantes, temos um território demarcado em 1992, com 87.205 hectares, na fronteira do Brasil com o Peru.

Nessa terra estamos cuidando para sempre ter os recursos naturais para garantir a nossa cultura, a nossa própria forma de conviver sem causar poluição ao nosso ambiente e para respeitar os nossos vizinhos.
Desde 1999 estamos sendo afetados diretamente por empresas peruanas que exploram madeira na fronteira e têm em várias ocasiões invadido a nossa terra indígena. Devido às nossas campanhas e mobilizações, essas invasões já são do conhecimento dos governos brasileiro e peruano e de várias instituições internacionais.

As autoridades brasileiras vêm lutando contra essas invasões, por meio de operações de fiscalização e de combate à exploração ilegal de madeira na fronteira internacional. Mas, os invasores insistem em desrespeitar o limite da fronteira, afetando a vida e a cultura do povo Asheninka, seu ambiente e os recursos naturais que tanto lutamos para recuperar.

Como é do conhecimento de todos, os Asheninka que vivem em terras ao longo da fronteira do Peru firmaram convênios de exploração de madeira em seus territórios. Isso nos causa dúvidas se são manipulados por uma política do governo peruano junto com as empresas madeireiras.

Versão completa http://apiwtxa.blogspot.com/2007/07/carta-da-comunidade-apiwtxa-sobre-as.html

Um comentário:

ALTINO MACHADO disse...

Mariana, parabéns pelo blog. Que tenha vida longa. O endereço correto do meu blog é http://altino.blogspot.com/.

Abraço