A Universidade Federal de Rondônia, seus alunos, técnicos e professores estão enfrentando uma situação surreal e que não tem conseguido furar a blindagem imposta para que informações sobre o que está acontecendo cheguem a conhecimento público. Como nos disse hoje o professor e antropólogo Estevão Fernandes em visita a capital acreana para assistir a um evento científico, a questão da greve em curso é um assunto interno, universitário, da comunidade com o reitor. O que causa apreensão e insegurança, declarou, são antes denúncias de violação de direitos humanos, de improbidade administrativa e tráfico de influências que tem sido sistematicamente ignoradas, seja pela imprensa, seja por orgãos públicos competentes. Ao que tudo indica, trata-se de uma apropriação e rapinagem da coisa pública por grupos políticos instalados em posições de poder no estado.
Como furar a barreira? O email abaixo, repleto de links que dão suporte ao que está dito, é uma tentativa de fazer isso. Por favor, repassem, divulguem, que sabe encontramos uma brecha. Sempre tem uma brecha.
"Caros amigos e colegas,
Não, este
não é mais um daqueles malditos spams que são enviados para listas
intermináveis. É, sim, um pedido de socorro...
Estamos
nós, antropólogos, tão acostumados a ler ou escrever sobre absurdos na Amazônia
em assuntos relacionados a povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos,
camponeses, entre outros, que o conteúdo deste email parecerá, aos que não
estão acostumados com a realidade amazônica, surreal.
No Estado de Rondônia, hoje, alunos estão
sendo ameaçados, professores universitários presos, deputados agredidos pela
polícia federal e jornalistas coagidos por essa mesma polícia.
Vão aí, a título de ilustração, mais dois links com fotos do
estado de nosso campus em Porto Velho (foto 1 e foto 2) e um terceiro link, com um laudo técnico
do corpo de bombeiros tornado público nesta semana:
Em resposta a pauta grevista, a
administração da Universidade disse que as reivindicações por melhorias não
fariam sentido, já que a Universidade, por mais que apresentasse problemas,
estava bem, obrigado.
Aos poucos, o movimento dos alunos se
transformou em um movimento para afastamento da administração atual, por
entender que havia uma série de denúncias (em licitações, obras, recursos,
fundação de apoio, concursos públicos, etc.) que precisavam ser tiradas a
limpo. Ato contínuo, o movimento grevista montou um dossiê de 1.500 páginas
onde essas denúncias eram sistematizadas e foi a Brasilia, encaminha-las ao MEC
e a Casa Civil, da Presidência da República.
Na Casa Civil, com todas as letras,
ouviram de um assessor que uma vez que a administração atual da Universidade
contava com o apoio de um político da executiva nacional do PMDB, base aliada
do Governo Federal no congresso, nada haveria a ser feito.
Há alguns dias a Polícia Federal, em
uma tentativa desastrada (e desastrosa) de descoupação do prédio da Reitoria,
ocupada por alunos da instituição há quase um mês, acabou agredindo um Deputado
Federal que lá estava, tentando negociar (Deputado Mauro Nazif, PSB-RO) e
prendendo um professor, que nada fazia a não ser observar a cena.
Abaixo alguns vídeos mostrando o
momento da prisão do Prof. Valdir Aparecido, do Departamento de História (Campus
de Porto Velho), bem como a agressão ao parlamentar:
Já o link abaixo contém uma foto do
mesmo momento da prisão onde se vê, de branco, ao centro, o prof. Valdir sendo
levado por dois agentes a paisana (um moreno, a esquerda, com uma pistola na
mão e outro, a direita, de camisa vermelha, com um cassetete, que daí a alguns
segundos seria utilizado para agredir o Deputado Nazif, de camisa azul clara,
no alto da imagem, à direita). De laranja, no canto esquerdo da foto, um rapaz
que se identificou como agente da PF, carregando uma câmera subtraída de um dos
professores que teria registrado parte da confusão):
Naquela mesma noite o Prof. Valdir
foi encaminhado a um presídio comum, chamado “Urso Panda”, onde passou a noite
em uma cela.
Alguns dias após o ocorrido, um
jornalista local foi coagido por Policiais Federais, por publicar notícias
apoiando a greve na Universidade.
Esta é, basicamente, a situação por
aqui: agressão, medo, coersão e ameaças, fazendo uso da máquina pública e de
agentes que deveriam proteger a população. O que nos parece, aqui em Porto
Velho, é que tanto essas ações truculentas quanto a conivência do Governo
Federal e a invisibilidade da questão na imprensa nacional se deve, sobretudo,
ao fato de nosso reitor ser aliado político e amigo pessoal de membros da
direção do maior partido da base aliada do Governo Federal.
Longe de mim acusar que quer que
seja. Afinal, é bem possível que todos os implicados nessa história sejam
absolutamente inocentes e/ou tenham agido de boa fé. Entretanto, a única forma
de garantirmos transparência no processo de investigação nos fatos aqui
relatados divulgando esses acontecimentos junto aos nossos contatos em OnGs,
Governo, imprensa e associações científicas.
Há informações atualizadas sobre
esses eventos no site mantido pelo comando de greve da Universidade, do qual, diga-se, não sou parte.
Aos que me conhecem, sabem que não
faço o perfil de politiqueiro ou sindicalista e, mais que isso, jamais
entulharia as caixas postais de vocês se não fosse estritamente necessário, mas
o fato é que meus colegas de Universidade, alunos, jornalistas e simpatizantes
estão, hoje, com medo de morrer. Precisamos de ajuda por aqui, urgente!
Espero contar com a compreensão e
ajuda de todos na divulgação do que tem acontecido por aqui. Qualquer coisa,
sintam-se a vontade para me escrever a qualquer momento.
Um cordial abraço,
Prof. Estêvão Rafael Fernandes
Chefe do Departamento de C. Sociais
Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
Coordenador do Observatório de Direitos Humanos de Rondônia
(CENHPRE/UNIR)
Porto Velho, RO, Brasil
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