segunda-feira, 9 de agosto de 2010

No Festival Pano 2

Como dizia (antes da minha internet sair total do ar), o terreiro foi o local por excelência de convivência e encontro. Você podia acordar pela manhã, tomar o seu café e ir pra lá que alguma coisa já estaria acontecendo, alguém já estaria no microfone dando avisos, fazendo convites, lá sempre era possível encontrar gente nas arquibancadas para conversar, trocar idéias e se pintar de genipapo e urucum.

E realmente é muito bom brincar de roda, e isso não é de hoje, né? Lembrei-me também das danças circulares, das mandalas que criamos em círculo, olhando-nos uns aos outros, fazendo movimentos em conjunto, rindo e reparando no jeito, ou falta de jeito, uns dos outros.

Lá na aldeia Kuntamanã, no terreirão, fizemos tudo isso, tivemos todos esses encontros. A roda começava pequena e ia crescendo, crescendo. Começávamos no sol e quando este esquentava nossa roda de gente ia migrando em busca das sombras do terreiro...

E lá íamos girando, num ritmo que dava para todos, quase não entendendo (nós, os brancos) as letras que eram cantadas, mas curtindo e repetindo mesmo assim. É sabido que muitas dessas brincadeiras são picantes, as letras das músicas são insultos de um sexo a outro, provocativas. Havia momentos em que os homens cantavam, e as mulheres riam, riam, e diziam entre si: "vamos dar o troco". E lá vinham elas cantando algo também provocativo e sensual.

E às vezes a coisa acabava na pancadaria, como foi a brincadeira da cana!

Aí acima, debaixo dessas mulheres todas, e das que estão se aproximando, havia um homem... Pois é, um indígena com um pedaço de cana na mão que ele não soltava de jeito nenhum, e às mulheres cabia justamente fazer com que ele soltasse a cana. Para isso, tudo era válido: bater, fazer cosquinha, arranhar, puxar, empurrar, tirar a roupa... - "Êpa, peraí, tirar a roupa não vale não, sacanagem, pô!" - protestou um jovem subindo as calças. Ok, ok tirar a roupa não vale, viu, meninas? Mesmo assim, era difícil resistir a elas, que estavam decididas a ganhar o jogo!

E ainda teve a brincadeira do fogo, com novamente as mulheres no ataque, ateando fogo a palhas e vindo atrás dos homens que, em fileira, se defendiam com galhos verdes. Uma festa, a meninada adorou!

Limpo o terreiro, nos reunimos todos para uma benção dos pajés contra os males que pudessem estar rondando o Festival. O fato é que logo no início do evento houve uma crise de febre e diarréia, que atingiu indiscriminadamente brancos e índios, brasileiros e estrangeiros. Muita gente passou baixo. Veio um socorro médico da vila Restauração e da Sáude Indígena do Município, e também a fonte da água para beber passou a ser melhor monitorada. Uma reunião de lideranças e pajés também tomou suas providências, entre as quais a de reunir todos num ritual de proteção e consagração.

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