segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Uma volta na Reserva 2

Uma paisagem está se tornando mais comum na Reserva. Não é a minha paisagem preferida, mas topei com ela a viagem toda: casas cobertas de alumínio e campos abertos. Claro que com isso vem o gado e um estilo de vida diferente. Mas não necessariamente homogeneidade. A foto acima, por exemplo, foi feita no rio Juruá, na altura da foz do Acuriá. Trata-se da fazenda do Manoel Patinho. Fazenda? Pois é, na Reserva, em especial no Juruá, fazendas e fazendeiros reinam, isto é, dominam o pedaço, pareceu-me, alguns deles com mais de uma fazenda, e seus rebanhos espalhados por elas e também por campos de moradores das vizinhanças, como dizem ser o caso do fazendeiro que impera na foz do rio Caipora. Grave, sem dúvida.

Esta área acima, se não estou errada, é próxima a foz do São João, onde está a fazenda dos Calila, que possuem outra mais acima, segundo me disseram, a Bandeirante. Mas os moradores não-fazendeiros, ou seja, aqueles que não tem no gado sua principal atividade econômica, também encantaram-se com as promessas da pecuária, ou melhor, desiludiram-se com a falência do extrativismo tradicional e abriram pastagens. Não são poucos - e isto talvez seja uma boa notícia - os que hoje pensam diferente e querem recuperar seus campos: o gado, afirmam, não é uma boa opção.
Na foto acima vê-se uma antiga pastagem vizinha a um milharal e sendo recuperada com fruteiras. Repare que elas estão plantadas em meio ao capim, por dois motivos: era inverno, difícil manter tudo limpo, o mato cresce muito, e também Altemir, dono do plantio, morador do São João, não dispõe de uma roçadeira, artigo que está se tornando imprescindível para aqueles que querem alterar a paisagem que construíram: eliminar o capim e implantar sistemas agroflorestais.

Alumínio e campos não querem dizer homogeneidade, como disse. Têm-se as fazendas, as moradas dos agricultores que também criam gado, e tem também - numa tipologia aqui feita sem muito rigor - as áreas de concentração de casas. Vejamos a vila Restauração aí acima, no alto rio Tejo. Trata-se de uma área cada vez mais ampla, ou seja, cada vez mais aberta, sem floresta (embora com fruteiras aqui e acolá, nos quintais em especial), com casas uma perto das outras. Esta é também uma outra paisagem que faz parte desta classificação mais geral de campos e "casas-forno", como gosto de chamar o resultado da cobertura de alumínio.

Encontro de Cariocas

Na foto (da esq para dir), Julinho Carioca, Alexandre, Enrique, Zé Carlos, dona Lurdes, Chayane (de vestido verde) e Antonio Carlos, meu pai (as pernas à dir são da minha mãe!)
Aconteceu ontem, dia 27, um memorável encontro musical. Foi na casa dos meus compadres Alexandre Anselmo e Leilane, pais do Moisés (abaixo com a mãe), bisneto da dona Veriana, que foi batizado na noite de Natal no Alto Santo.

Comemorar o Moisés, sua chegada e batismo, e inaugurar a casa da dona Veriana e seu Norato, ainda em processo de construção, foram o pretexto sincero para criar a oportunidade de estar junto, comer junto, tocar e cantar juntos.

Na foto: Julinho, Alexandre e Enrique.
Assim, em meio a sacos de cimento, paredes de tijolo não rebocadas, chão ainda sem piso, nos reunimos. Música e boa comida. O menu foi rabada no tucupi e moqueca de peixe, servidos com sucos e refrigerantes. Sorvete de sobremesa e ainda um café pra arrematar.

Na foto: dona Lurdes, Chayane e Antonio Carlos
Os “cariocas” do título referem-se a duas famílias convidadas: a representada por dona Lurdes Carioca, os filhos Julinho, Zé Carlos, Jairo e Jane, a nora Geane e as netas Chayane e Fernanda, e a minha própria, vinda do Rio de Janeiro: pai, mãe e Lucas, meu irmão. Cariocas no sobrenome – recebido quando o sogro de dona Lurdes chegou ao Acre vindo do Ceará – e de residência na Cidade Maravilhosa confraternizaram.

Na foto, Jairo dança com Chayane, sua sobrinha. No pandeiro, Antonio Carlos, ao fundo, Fernanda, filha de Jairo e Geane.
E havia ainda outras presenças ilustres. Parentes do Alexandre, vindos de São Paulo, também estavam lá (seu pai, irmã, tia e sobrinha). Aliás, o momento em que o hino do Coríntias foi entoado (depois do do Flamengo) foi da maior animação. Pois é, até hinos de futebol fizeram parte do repertório!

Na foto: Lucas, Kátia e Julinho.
Amigos e parentes apareciam a toda hora: a Kátia, o Fábio, o Enrique, e outros e outras mais. Não houve propriamente um convite para os presentes. A música convidava: quem passava e ouvia, ia lá dar uma espiada. Se se agradava, ficava e participava. Sob a batuta do nosso maestro Julinho Carioca – numa performance inesquecível – sambas do arco da velha foram tirados do baú e executados com alegria e animação, e competência, pois a banda era boa mesmo.

Na foto, dona Veriana fazendo a alegria do salão!
Os instrumentos – violão, viola, cavaquinho, tamborim, pandeiro, instrumentos de percussão e até um trompete – rodavam nas mãos dos músicos, que também mudavam de lugar, e a sala parecia estar em movimento. Muita risada pelas lembranças de sambas que todos já haviam esquecido!
Na foto: Lucas, eu e Chayane.
Coisa boa é estar entre amigos. Numa roda de samba, e amizade. Como disse o Julinho ao se despedir: “hoje eu vou dormir bem, com a alma lavada”.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Uma volta na Reserva I

Neste final de novembro e início de dezembro estive na Reserva Extrativista do Alto Juruá. Fui numa viagem de monitoramento do nosso projeto Funbio de implantação de experimentos agroflorestais na Reserva; viajei com o Caxixa, nosso amigo e técnico local. Após muitos anos andei no rio Juruá acima, tinha tempo que não passava por lá; e fui também ao bom e velho Tejo, terra dos Kuntanawa e da vila Restauração.

Já falei de tudo isso aqui noutras postagens, e resolvi então colocar algumas fotos com comentários. A foto acima, por exemplo, feita nas margens do Juruá, retrata um aguano, nome local do mogno. E a abaixo a Samaúma, que gostamos de considerar a Rainha de todas as outras árvores, a Rainha da Floresta, sempre linda e imponente.

Na floresta tem lugar para todos e todas, e a pupunha estava dando cachos quando andei na Reserva. Na casa do Caxixa, onde tirei a foto abaixo, comi a pupunha mais gostosa de minha vida: macia, saborosa, desmanchando na boca - um luxo!!!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Arapixi: você conhece?

Recebi o email abaixo do Felipe Mendonça, do blog Picaretas da Távola Redonda, e que também trabalha no ICMBio aqui do Acre. Vi os filmes, gostei. Conheço o Arapixi de nome e de longe. Quando andei uma época, lá pelos idos de 2003, por Boca do Acre, trabalhando na certificação do couro vegetal com a turma da APAS, sempre encontrava o seu Raimundo Rocha, morador do Arapixi, correndo atrás dos direitos do povo de lá, sempre ameaçado de expulsão.

Em 2006, a Reserva Extrativista Arapixi foi criada, e nunca mais fui a Boca ou vi o seu Raimundo. Sempre sei de uma notícia ou outra de lá, pela Karine, a Marina e agora o Felipe. Então gostei muito de ver as imagens daquele povo seringueiro e suas histórias. Sinto-me remetida a um tempo que não é mais, e que já vivi de alguma forma no Alto Juruá...

Então, taí, o Arapixi pra quem não conhece!

"Olá Mariana,

estou entrando em contato para lhe apresentar o documentário que fizemos da RESEX ARAPIXI "Das margens da histõria às margens do Purus: vida e resistência na RESEX ARAPIXI". Com imagens captadas durantes as viagens que fazemos na gestão da Unidade, vimos que tinhamos uma história pra contar... e estamos contando. Mais do que um filme da RESEX, o documentário é um filme das pessoas que ali moram.

Ele a princípio está no YouTube dividido em 3 partes. Estamos em busca de patrocínio para fazer as cópias.

Você me daria um enorme prazer se pudesse ver o documentário.

Muito obrigado
Beijos
Felipe"

1a. parte

2a. parte

3a. parte

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Tas no Acre

Pois é, o Marcelo Tas passou por aqui. Veio para um evento chamado iNeo´09, algo como a renovação de nós mesmos em 2009 no contexto das chamadas novas mídias a partir da introdução da internet, nos anos 80. Foram várias mesas e uma palestra dele de encerramento. Vi a primeira mesa, e depois voltei à noite para a palestra do Tas. Sobre o evento como um todo, tem uma postagem bem legal, e crítica, no blog dos Picaretas da Távola Redonda.

De uma maneira geral, ouvi coisas interessantes, gente inteligente, moderna, o Altino também estava lá com seu jeitão. Foi na Usina de Artes, no teatro que tem lá, aquele todo preto. Senti que quando eu estava lá adentrara num universo outro, algo como um portal, e aí coisas como blogs, orkut, twitter e afins eram a linguagem, e quem não se conectasse a isso, coitado... Fiquei pensando: "nossa, é mesmo? Meu Deus, e agora? Nem sei o que é Twitter...". Quando saí para dar um pulo em casa, a conexão caiu e entrei no meu mundo costumeiro, com aquele calor de rachar, o sol brilhante, minha casa, cachorros, alunos, aulas, amores. Entrei na internet e fui dar uma olhada no Twitter, mas não me animei. Atualmente, o que mais preciso é tempo de estudo, leitura. Abrir mais uma frente de dispersão, acho que não. Fico com o meu uso costumeiro: email, blogs, skype e Google!

Mas o Marcelo Tas é muito dez! Conheci ele meio tardiamente, ou seja, não peguei, infelizmente, os tempos do Ernesto Varela. Quando morava em Campinas conheci o Vitrine, na TV Cultura. Nossa, curtia muito! E aí, sempre que vejo algo dele, paro, presto atenção, gosto de ouvir. Ver pessoalmente, ouví-lo ao vivo - oportunidade imperdível. E a conversa dele foi muito bacana, ele é muito bacana, agradável de ouvir. Não é um fanático, muito pelo contrário. Tem uma serenidade e maturidade, mesmo uma espiritualidade (será que ele ficou conhecendo nossa "poção mágica da floresta"?). Ele comunica, o cara comunica, galera! Vê-se que está a vontade com toda aquela parafernália midiática. Taí, gostei mesmo.

Fiz umas fotos e um filmezinho com a máquina, que disponibilizo aqui. Neste trecho ele está falando da internet, dos idos de 1988, quando um amigo pediu que ele fizesse uma exposição para seu chefe [chefe do amigo] dizendo das oportunidades que se abriam com a www.



terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Xingu é aqui

"Ondas de calor jamais sentidas. Ventos acima da média. Rios cada vez menos caudalosos. Esse é o cenário atual da região do Alto Xingu, segundo o chefe indígena Raoni Txucarramãe, líder da etnia Kayapó".

Esta descrição de Raoni, publicada na Folha de SP de hoje, parece extremamente familiar para nós acreanos, em especial neste verão que se encerra (assim esperamos). O calor tem estado verdadeiramente INSUPORTÁVEL, o sol machuca e é implacável, dá uma sensação de sufocamento, sei lá. Ir no centro virou um pesadêlo. Lá em casa, os cachorros vivem debaixo de casa, que é mais fresco. Os filhotes de um mês choram de calor durante o dia. À noite, melhora um pouco, mas dormir sem ventilador (não tenho e não gosto de ar condicionado) virou pré-condição. Durante o dia também: os dois que tenho em casa funcionam sem parar. Esses dias passou lá em casa uma amiga querida, a Maria Alice. Conversando ela me contou que nos Estados Unidos, numa cidade onde esteve (não recordo o nome), cuja temperatura sempre ficou nos 35 graus, ela experimentou um calor de 47 graus! Disse que as pessoas iam para os jardins e ficaram estateladas em cima da grama. Imaginou a cena?

"O calor está intenso, os ventos são muitos mais fortes do que eram antes e o nível dos rios na seca é diferente do que era tempos atrás. Estou muito preocupado, pois estou vendo acontecer tudo o que vinha falando há tanto tempo". É Raoni, também estou preocupada.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Novidades em casa

Hoje faz um mês que a Luna pariu dez filhotes, sete meninos e três meninas. Uma morreu, a mais mirradinha, não resistiu, a seleção natural falou mais alto. Os nove restantes vão muito bem, obrigada. A Xila, filha também da Luna, mas já com um ano, ao início assustada e desconfiada, agora sacou que os irmãozinhos(as) são um grande barato e brinca muito com eles. A Luna fica enciumada, e dá-lhe uns carões! Mas a Xila volta a carga, sabe como é, criança, né? Fiz um filminho de uma dessas cenas, que compartilho com os amantes da vida animal.

domingo, 11 de outubro de 2009

Novo blog no ar!

Tem blog novo no ar, o Amazone-se, criado e alimentado pela Bia Saldanha, amiga de longuíssima data e que em fevereiro deste ano veio de volta para o Acre com sua família: Marcelo, o marido, e João Manuel, filho, acreano de nascimento. Depois de ensaios e ameaças, eis que vem à luz, finalmente, o blog da Bia. Ela tem longa história aqui no Acre. Somos da geração "acrioca", que veio do Rio e adotou o Acre como morada, e foi pelo Acre também adotada. E vamos vivendo aqui, com saudades do Rio, que é muito lindo e amado, mas felizes da vida por estar aqui perto da floresta, neste lugar tão especial e fascinante que é o Acre, cheio de desafios, apuros e presentes.

Bia amazonizou-se. Amazone-se vc também!

Aí somos nós (Bia, à esquerda, Luis e eu), no aniversário da madrinha Peregrina, no Alto Santo, em julho de 2007.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Um plano e muitas esperanças

Vieram então as apresentações dos grupos de trabalho, com seus mapas e relatórios. Já estávamos no dia 20, último dia da reunião.

Um a um, os oito grupos relataram suas conclusões, tendo a mão seus relatórios, ao final reunidos numa imensa pilha confiada aos consultores coordenadores do Plano. É muita responsabilidade, não? E a idéia é fazer com que este material esteja espelhado no Plano, seja uma base para as análises e propostas. Mapas detalhados, com verbetes inventivos, de tamanhos diversos foram apresentados e igualmente entregues à coordenação.

Tudo é realmente muito ambicioso. Por que digo isso? Porque fazer de um processo algo que valha o nome de "participativo" - palavra surrada no vocabulário de projetos e governamental - é algo que dá trabalho e requer muita, mas muita mesmo, paciência e generosidade para escutar e acolher o que o outro está dizendo. E tem horas que este outro diz cada coisa!

É sério. Por exemplo: parte das soluções encontradas pelos participantes lembravam uma "lista de compras" aos governos. E aí fica a pergunta: participativo não deveria estar aliado a uma perspectiva mais antonomista por parte dos moradores da Reserva, e menos alimentadora de dependências? Mas e aí, se esta solução foi a enxergada? Na verdade, nem tudo está perdido, pois em meio a este senso comum de demandar do Estado - coisa que, frize-se, não é privilégio das populações da floresta! - aparecem coisas como organizar cooperativas locais, comunidades chamando para si responsabilidades que já tiveram mas perderam, como a de fiscalizar e estabelecer leis locais. E assim vai-se construindo a "participação".

Ora, o consultor também é parte, então tem que dialogar com tudo isso, trazer novas idéias, fomentar demandas, mostrar aspectos que não foram tratados. Colocar as partes para conversar, como foi feito na última parte da reunião. O gestor da Reserva no ICMBio foi chamado a fornecer explicações (foto abaixo), o presidente da Asareaj (abaixo, à esquerda em pé) também, assim como secretários municipais. Compromissos foram publicamente assumidos, posições foram tornadas claras. Ilusões talvez tenham sido perdidas, o que não é ruim, ou é?

Pra finalizar, o evento e também esta postagem, um fecho de ouro. Um termo de cooperação técnica foi assinado entre a Asareaj e a Apiwtxa, tendo o ICMBio como testemunha e todos os moradores da Reserva presentes (muitos dos quais fizeram questão de assinar o documento como testemunhas). O evento foi muito aplaudido e saudado como um bom vento, um bom augúrio, uma esperança. Para alguns mais veteranos de toda a história (e aqui me incluo), a Aliança dos Povos da Floresta, muito significativa na região entre 1988 e o início dos anos 90, foi reeditada e atualizada. Simbolicamente, mas não só pois as consequências são também de ordem prática, talvez algo muito forte esteja em curso: um recuo no preconceito étnico, ou a abertura de uma brecha para uma nova visão de desenvolvimento e bem-estar, ou pelo menos o estabelecimento de um inesperado canal de conversas e interesses comuns.

Um gran finale, como disse, e esperamos que uma aurora promissora para o Alto Juruá.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Na reunião do Plano de Manejo

Quando cheguei os trabalhos já haviam começado. Estavam presentes mais de 100 representantes comunitários de 69 comunidades da Reserva Extrativista do Alto Juruá. Foram poucas, cerca de 10, as comunidades ausentes, o que foi um excelente sinal. Todos já haviam se apresentado e o passo seguinte era partir para trabalhos em grupo, desta vez não mais por comunidades e sim por regiões da Reserva. Foram então identificadas oito regiões e as comunidades agrupadas nelas.

Partiram então todos para o trabalho: elaboração de um mapa com as comunidades assinaladas e um diagnóstico com os principais problemas e soluções para a referida região e, depois, num esforço de reflexão ampliado, na perspectiva de cada região, para toda a Reserva. Este trabalho consumiu o restante do dia 17 e ainda parte do dia 18.

No meio de tudo isso, as refeições e suas filas que não eram brincadeira mas com comida para todos,...

... explanações de professores universitários, como a Marta e o Edu, da UFAC-Floresta, sobre pesquisas colaborativas possíveis,...

e também cantorias dos artistas locais, que não são poucos. Este aí abaixo é o Valmar Calixto, grande compositor e intérprete do rio Tejo!

E uma coisa muito interessante: palestras e filmes dos coordenadores do Yorenka Antame, os Ashaninka do rio Amônia. Aí abaixo é o Benki Pianko, que acompanhou toda a reunião. Pra quem nunca tinha visto, ali estavam indígenas acolhendo seus vizinhos brancos em sua casa e conversando sobre alternativas possíveis para um desenvolvimento mais amigável para com a natureza e todos os seres vivos, inclusive os humanos. Tudo isso preparou o final da reunião para um gran finale, como será visto.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Já rio acima (com fotos)

Como disse, subi o Juruá de avião. Esta é uma vista da aproximação da cidade de Marechal Thaumaturgo, que deve ter hoje, não sei, mas uns 10 mil habitantes. A sede do município, que dá pra ver parcialmente na foto, cresceu muito nos últimos 10 anos.

Dá pra ver a pista onde pousamos, que já foi reformada não sei quantas vezes, e está novamente em reforma. De obra em obra vai ficando mais sofisticada: hoje já tem até uma casa de alvenaria e telha de barro, toda pintada e confortável, para os passageiros ficarem. Lembro de quando, por volta de 1993, a gente ficava mesmo era agachado debaixo de um arbusto para se proteger do sol esperando o avião que nunca chegava! (Bom, os atrasos seguem sendo de praxe). Depois teve a fase da casa de madeira, até que bonitinha, mas desmoronou com o tempo. Aí voltamos para um barracãozinho quente como o quê... E agora esta casa mais estruturada.

Nesta segunda foto, tem uma vista interessante: estamos do lado oposto da anterior, o avião já vai pousar, o município está a frente, vê-se a foz do rio Amônea, em frente uma praia saliente e na mesma margem da praia, assim à direita, telhados de algo que parece umas cabanas. É a Yorenka Antame, o Centro de Formação Saberes da Floresta - meu destino. Uma aldeia de frente para a sede municipal. Gosto desta imagem. Pois foi lá nesta "aldeia" pluriétnica que estava se realizando a reunião do Plano de Manejo. Mas isso fica para amanhã...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Subindo o rio...

Agora foi a vez de subir o rio, no caso o Juruá, do outro lado do estado. Só que de avião! Saí de Rio Branco dia 17, pausa de um dia em Cruzeiro do Sul, e viagem de monomotor para Marechal Thaumaturgo, no alto rio Juruá. Se fosse de barco, nesta época de rios secos, daria uns 3 a 4 dias; de aviãozinho, apenas 50 minutos cruzando do alto rios, igarapés, florestas e desmatamentos, em especial próximos a sedes municipais ou onde há áreas de fazenda. Claro que não se compara aos desmatamentos no entorno da capital e também de Cruzeiro, que impressionam. Aliás, quase pousando em Cruzeiro era possível ver colunas de fumaça das queimadas da época; era possível ver o aquecimento global acontecendo em ato! Não fotografei porque já estávamos naquela hora que nada pode ser ligado dentro da aeronave...

(Aliás, nesta postagem não tem foto porque estou sem o cabo para baixá-las. Então, quando voltar faço uma postagem só com fotos.)

Vim pra cá para acompanhar, num primeiro momento, as atividades de elaboração do Plano de Manejo da Reserva Extrativista do Alto Juruá, mais especificamente uma reunião ampliada de representantes locais discutindo problemas e soluções para a Reserva. O Plano está sendo coordenado pelo Augusto Postigo, antropólogo da UNICAMP, antigo colega de trabalho, que muito sabiamente recrutou para sua equipe outro antropólogo, o Roberto Rezende (também UNICAMP) e o Roxo, digo, o Antonio Barbosa de Melo, sobre quem já escrevi neste blog mais de uma vez no ano passado. Trata-se de um ex-seringueiro tornado pesquisador - um exemplo de perseverança, humildade e genialidade. Augusto, Roberto e Roxo, este bravo trio montou um plano de trabalho orientado para viabilizar, com recursos limitados e burocratizados, a máxima participação no processo todo por parte dos moradores da Reserva, que vem de anos de desmobilização e processos complicados (sobre os quais já escrevi há quase um ano).

O plano, em resumo, foi o seguinte: chamar a equipe de moradores-monitores-pesquisadores da Reserva (formada ao longo de anos de um trabalho liderado pelo prof. Mauro Almeida, da UNICAMP), orientá-los e delegar a responsabilidade de realizar reuniões comunitárias na Reserva nas quais foram escolhidos os representantes que hoje estão aqui nesta reunião ampliada. Foram cerca de 80 reuniões em uma semana, onde os desafios atuais e o futuro da Reserva foram tratados, representantes locais escolhidos e um dever de casa assumido: trazer para a reunião ampliada um relatório-diagnóstico de cada comunidade, o que já foi feito pelas próprias comunidades. São documentos incríveis e carregados de legitimidade, orgulhosamente trazidos e aqui apresentados. Rola um frisson no ar a muito não visto na Reserva...

Em suma, tá um agito bom por aqui. Agora estão ampliando a esfera, que de local-comunitária, passou a regional e geral, ou de toda Reserva. Representantes do ICMBio estão aqui, um vereador ou outro, professores da UFAC. Onde é aqui? Ah, sim, é no Centro de Formação Yorenka Antame, coordenado pela Associação Apiwtxa, dos Ashaninka do rio Amônea. O Centro é a grande boa nova dos últimos tempos nestes rincões amazônicos, difundindo e implantando experiências de agroflorestalismo e outras práticas sustentáveis, visando uma rearticulação das populações locais (indígenas e não) para defender um desenvolvimento adequado aos tempos que correm. Não é tarefa fácil, mas o que é fácil nesta Amazônia de meu Deus?

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Passeio na BR

Neste último fim de semana, querendo fugir um pouco da capital e descansar no interior, saímos, Zé Carlos e eu, rumo a Xapuri. Nosso objetivo: a Pousada Villa Verde, dirigida pelo Micheli, um italiano radicado nessas terras e casado com uma xapuriense, muito conversador e bom anfitrião. Vale com certeza ir até lá conferir. Mas aqui o objetivo é outro: contar o que fomos vendo ao longo do percurso, ao longo da BR 317, a nossa "transoceânica", que nos liga ao Peru e Bolívia, e que corta grandes extensões do que já foram um dia florestas maciças. Hoje, bom, ao longo da BR, no trecho Rio Branco-Xapuri, eis o que vimos:

Saindo de casa pela Via Verde, ainda em Rio Branco, logo topamos com o amigo aí na frente...


Da onde vinha e para onde ia? Boa pergunta. Paradoxal foi vê-lo numa via por nome "verde" e cruzando com a placa abaixo. Estamos realmente cuidando da vida, ou de que vida? A viagem prometia ser emocionante para uma reflexão desta ordem.


Ultrapassamos o caminhão e seguimos, logo pegando a estrada para o Quinary, que está sendo duplicada e que tem trechos incrivelmente mal sinalizados. Mas o asfalto, onde já foi colocado, impressiona, desliza-se suavemente. Velozes então seguimos, logo estávamos na BR 317, agora rumo a primeira cidade depois da simpática Senador Guiomar (ou Quinary): a deflorestada, segundo afirmam estatísticas que já li em algum lugar, Capixaba.


Logo topamos com o símbolo do desenvolvimento rural em São Paulo, na região conhecida como Califórnia Brasileira: cana-de-açucar, aquela que o Lula dizia que não ia chegar na Amazônia de jeito nenhum, só se passasse por cima dele. Parece que passou, pois depois ele alizou o discurso, e lá está a usina do Grupo Farias, que já teve mil percalços com o Ministério Público, não sei como está agora, mas a cana está lá, sim, senhor!


Não foi a primeira vez que passei ali, tenho fotos inclusive de quando a terra estava sendo preparada para o plantio. E todas as vezes sinto um incômodo: me sinto num Globo Rural. Isso, paisagem rural, e não florestal. E lá estão as castanheiras, sempre elas, que insistem em denunciar sua lenta e dolorosa morte; antes no pasto, agora no canavial. Sinto um cheiro de São Paulo, daquilo que por lá chamam "progresso", e que aqui ficam nos vendendo, com suas usinas, estradas, perfurações petrolíferas & Cia. Interessante ainda porque em alguns trechos, do outro lado do asfalto, lá estão seringueiras cultivadas, ou seja, que foram plantadas em algum momento da nossa história.

Não acredito que estejam economicamente ativas, mas estão lá formando um simpático bosquezinho e contrastando com o canavial em frente. Tentamos domar a floresta e, pelo visto, não conseguimos, e lá está um dos símbolos da colonização (e destruição) da Mata Atlântica: a gostosa cana, pois, admitamos, a bichinha é gostosa, dá garapa, rapadura, mel... e alcool, biocombustível do momento!

`Bora em frente!

Ah, sim, a eletrificação que acompanha a BR, torres e postes pra todo lado. Bom, deve ser bom ver a luz chegar em casa, substituir a lamparina, ligar a geladeira, a TV, o computador, deve ser bom, quer dizer, serão poucos os que dirão que é ruim. Muito poucos. Eu mesma, gostaria. O duro é quando a gente fica pensando da onde vem a energir que passa ali, como é gerada, se é limpa ou não. Sei é que aqui queimamos muito diesel para ter luz na floresta, ou no que resta dela. Contradições...

E o nosso bom e velho gado e as fazendas e pastos, que são A paisagem da BR. O povo do Rio Grande do Sul quando anda por ela deve achar o máximo, disse uma amiga gaúcha quando andou por aqui: tudo colonizado, domesticado, muita terra para criar e plantar. Não são só os gaúchos, né, que gostam desta paisagem. Nós, acreanos, também gostamos. Bom, eu não gosto, mas sou "acrioca"! Acho bucólico, não tenho nada contra os bois e vacas, muito pelo contrário, nem como a carne deles por respeito a vida e protesto contra a destruição da floresta e a mercantilização da vida desses animais. Só que fazenda, fazenda, fazenda, uma atrás da outra, é meio demais. A floresta? Bom, lá no horizonte, cada vez mais longe do asfalto, com pontos onde ela nem ao menos é visível. Meio demais, né?

Já dentro do município de Xapuri passamos pela fábrica de pisos e tacos. Imensa, chaminé com fumaça mas muito pouco movimento do lado de fora. Será que já estã realmente funcionando? Com que madeira? Bom, tá lá a bichona, toda bonitona, veja aí embaixo. Se alguém estiver mais bem informado sobre seu funcionamento, por favor, dá uma palhinha aqui no blog pra gente.

Finalmente, já na Estrada da Borracha, que sai da BR e nos liga a Xapuri, topamos com talvez a melhor notícia para a floresta nos últimos anos: a fábrica de preservativos Natex! Viva a borracha, pessoal! Fiquei com muita vontade de entrar e conhecer. Sou fã desta fábrica, que me parece uma solução inteligente para um produto que temos em abundância: ou seja, camisinha é sempre um bom negócio, o povo gosta de trepar, não tem jeito, e estamos em tempos de DSTs e controles de natalidade. Por outro lado, látex é o que temos para oferecer sem precisar de grandes mirabolâncias.

Bom, era isso que queria contar. Fiquei mesmo com vontade é de andar na BR 364, aquela que vai para Cruzeiro do Sul, rasgando florestas e cruzando rios. O que será que anda se passando ao longo dela?

sexta-feira, 10 de julho de 2009

A marcha dos Kuntanawa

O título da postagem é uma clara referência ao filme "A Marcha dos Pinguins". Não sei se o local é o mesmo, mas os Kunta vão marchar no gelo. Da floresta ao Círculo Polar Ártico. Não é para qualquer um, devemos reconhecer.

Estive com Haru Kuntanawa e seu pai, Iavu Kuntanawa (ou simplesmente, para mim, o compadre Pedrinho), por duas vezes quando passaram aqui em Rio Branco - vindos da aldeia, que fica no alto rio Tejo, lá para as bandas do rio Juruá, já nas fronteiras com o Peru - rumo a Groelândia. Com um certo e justificado temor do frio, mas confiando que seus anfitriões não os deixarão na mão, eles estavam conscientes da responsabilidade de falar pela Amazônia na Cerimônia do Foto Sagrado, evento que reunirá milhares de pessoas de todo o mundo e que é liderado por um xamã esquimó, Angaangaq.

Há um mito esquimó que já previu o aquecimento global, ao que parece. Ele fala sobre o derretimento do gelo na região ártica e que quando isso acontecer o Fogo Sagrado virá em socorro, voltará para a Casa do Povo do Topo do Mundo. Os esquimós vivem no topo do mundo. Angaangaq diz que o gelo que deve ser derretido não é o da terra, mas sim o do nosso coração. Haru e Iavu estão levando, para aquecer esta fogueira, cinzas utilizadas no fabrico do rapé que utilizam. Imagina o que os outros povos estão levando... Vai ser muita ciência reunida, muitas intenções unidas. Que Deus abençoe.

Groelândia... quem diria... esses Kuntanawa são cheios de surpresas. E virão outras este ano ainda, aguardem!

sábado, 13 de junho de 2009

Livro na praça!

Como tinha sido anunciado, dia 6 passado, meu livro "Os Milton. Cem anos de história nos seringais" (2a edição), foi divulgado na Bienal da Floresta numa noite muito agradável. A lua estava lá, o frescor da noite também, um som ambiente com chorinho e música sacra (esta ao vivo!) e, claro, o público comprador. Na verdade, o público que passou por lá e tornou tudo muito gostoso e aconchegante foi mesmo de amigos e alunos da Ufac.

Expandimos o stand para os bancos da praça ali perto e ficamos conversando, ouvindo música e curtindo a noite. Foi bem gostoso. Eu, que não estava contando com muita coisa, não tinha idéia de como seria, fiquei agradavelmente surpresa e feliz. Uma pena não ter ali ninguém da família do seu Milton, merecedores também que são das homenagens da noite. Mas está nos planos um lançamento de fato, com conversa e música, num futuro breve, e aí representantes da família são pré-condição.

Pra quem não conhece, o livro é resultado da minha tese de doutorado, defendida na Unicamp em 2001 (hoje fazem 8 anos!), e fruto de uma longa pesquisa de campo no alto rio Juruá junto a família de seu Milton Gomes da Conceição e dona Mariana Feitosa do Nascimento, ambos descendentes de índios pegos em correrias e nordestinos migrantes. Isso tudo no tempo em que a borracha era o principal produto de exportação da floresta. O livro narra a trajetória de constituição desta família de seringueiros de ascendência interétnica, buscando formas textuais que dêem voz a eles e também a mim, a autora, diferenciando essas vozes e pretendendo uma multivocalidade. O livro carece até hoje de uma resenha, mas já tem uma pequena legião de fãs. Ou seja, recomendo a leitura.

Bom, quem quiser conhecer e/ou comprar o livro pode entrar em contato com a EDUFAC, no campus da UFAC mesmo. Logo o livro estará disponível na Livraria Paim também, para compra. Nas bibliotecas ele está chegando aos poucos. Já está na da UFAC e da Biblioteca da Floresta, e acredito que logo na Pública (aquela nova ali do centro) e quero também colocá-lo na Casa de Leitura da Gameleira. Enfim, aos poucos a boa nova vai se espalhando. Estou também tentando colocá-lo nas bibliotecas da universidades federais (já foi para a UFRJ, UFMG e UFPR, por exemplo).

Ah, sim, também estou vendendo livros (R$ 40 + R$ 5 de correios), inclusive pelo correio: maripantoja@yahoo.com.br. Esclareço ainda que a renda, pagas as despesas de impressão do livro (que foram majoritariamente custeadas pela Lei Estadual de Incentivo a Cultura de 2007, mas que tiveram que ser complementadas com um pequeno aporte meu), será revertida para os Kuntanawa, etnia indígena da qual "os Milton" descendem e que está em pleno processo de ressurgimento étnico e demanda territorial. Você não sabia? Pois é, nesta segunda edição do livro tem um pós-escrito contando este novo capítulo da história...

sábado, 6 de junho de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Mas, o que passa afinal???

É assim, meio perplexa e também revoltada, que vivo e assisto a situação da xerox no curso de Ciências Sociais da UFAC. Hoje fui dar aula e voltei para casa sem cumprir minha tarefa: os alunos alegam que a xerox está (de novo!!!) quebrada e ninguém tinha cópia do texto. Dando um desconto para a malandragem estudantil, que rola mesmo, este semestre o não funcionamento das máquinas fotocopiadoras no curso está sendo a regra, e não a excessão. Isto chama atenção. Desde que comecei a dar aulas na UFAC, em dezembro de 2005, tirar xerox sempre envolveu uma certa incerteza, mas não uma impossibilidade. Mas este ano a coisa se superou, como se diz. A regra é: a xerox não está funcionando. Hoje mesmo assisti a máquina "dar pau" na minha frente.

O não-funcionamento das máquinas fotocopiadoras é um inferno para um curso assentado sobre cópias de capítulos, pedaços de texto, artigos - e não sobre livros como um todo. Os motivos para esta realidade são vários e não exclusivos da UFAC, mas um deles é, acredito, a qualidade do acervo da biblioteca, pobre, com poucos volumes e desatualizado. Não daria para dizer aos alunos: vão na biblioteca que vocês encontram o livro. Isto, pelo menos na minha área, é raro. Por outro lado, exigir que os alunos comprem os livros indicados é viagem total. Tenho alunos com dificuldades em tirar xerox, quanto mais adquirir um livro. Esta é a realidade do curso. Ou seja, a xerox precisa funcionar - é básico!

E por que não funciona? O que passa afinal? Será só no nosso curso que não funciona? E nos demais, como é? Sei que em caso de pane na xerox, o jeito é ir tirar cópia lá na "xerox da biblioteca", que tem sempre máquinas funcionando. Mas, interessante, o "dono" daquela xerox é o mesmo (ou mesma) da que (não) funciona lá no meu curso. E me disseram, não sei se é verdade, que a mesma pessoa controlaria todas as xerox da UFAC. Será? Uma só pessoa (física ou jurídica) ganhou a licitação da universidade inteira? Este é um bom tema para investigação: o que estabeleceu esta licitação em termos de qualidade do serviço e também dos preços a serem cobrados? O que o contrato diz sobre condições nas quais o contrato pode ser rompido?

Temas espinhosos, quem se arrisca em ir atrás? Alguém já foi?. Se foi, o que encontrou?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Santa Semana!

Semana Santa passou e tive o prazer de ter comigo só gente querida. São dias densos estes da Semana, costumam ser, e continuaram sendo. Mas talvez atenuados por estar eu com o coração cheio de alegria pelas presenças, além do Zé Carlos, de meus meus pais - Maria e Antonio - e Guadelupe, antiga amiga da família radicada no México. Vieram todos os três passar a Semana aqui, visitar a casa depois da obra do quarto e mesmo conhecer o Acre, como foi para a Guadelupe, que na verdade pisou pela primeira vez na Amazônia, logo aqui, em Rio Branco, vejam só.

Era muita coisa pra ver, saudades para matar - e pouco tempo. Então, elegemos. Os dois primeiros dias foram dedicados a visitar exposições: a do Palácio e da Biblioteca da Floresta. Incluímos uma ida ao Mercado Velho novo, passeio na passarela, ver o rio. Rolou ainda um almoço no Mata Virgem, que serve galinha caipira, coisa que meu pai, tal qual mulher parida, estava desejando! Estava gostoso mesmo. Ficamos também em casa, pois foram dias de MUITA chuva, só vendo... Chuvas amazônicas. Pra quem não conhecia, até isso foi turismo: ver e ouvir a chuva.

Na Sexta-Feira Santa nos organizamos para um almoço. Convidamos amigos e fizemos um bom de um bacalhau, pilotado por mim e meus pais, acima montando os pratos antes de levar ao forno. Vieram a Chayane, o Allan, a Bia, o Marcelo e o João Manuel. Comemos a valer, brindamos e rezamos, marcando a sobriedade e magnitude do dia onde o Amor talvez mais tenha estado em jogo. Foi muito agradável. Boas conversas, clima tranquilo, até a chuva colaborou.

Depois veio o ponto alto da viagem: visita a Xapuri e ao seringal Cachoeira, mais precisamente à floresta. Na cidade passamos rápido, o tempo para visitar a casa de Chico Mendes, onde tiramos a foto todos juntos (abaixo), e a Fundação que atende pelo mesmo nome, da qual saímos quase todos uniformizados com camisas lembrando o Chico, com saudades dele mesmo sem o ter conhecido...
Rumamos então para a Pousada Ecológica do Seringal Cachoeira. Um hotel na floresta, ali pertinho dela, de bom gosto e agradável. Não tenho fotos aqui comigo, por isso não as ponho agora, mas vale com certeza conhecer e descansar por lá um pouco. Tem um açude grande com uns decks bons de ficar e fazer um som, como fizemos: Zé Carlos no violão, meu pai na percussão e o mulherio na voz. Nossa, passamos umas horas ali revirando o baú da memória de músicas antigas, cada um revelando seus talentos vocais (mesmo que desafinado...).



No dia seguinte, corremos lá no Nilson Mendes, que gentilmente nos levou para um tour na floresta, um tour de verdade, fora de trilha, andando na mata e conhecendo, guiados por ele, um pouco melhor aquela paisagem que, pra quem não conhece, parece de um verde meio uniforme, mas pra quem conhece é diversificado, descontínuo e cheio de informação. Pegamos MUITA chuva, tivemos mesmo que abreviar o passeio. Para nos proteger, por duas vezes Nilson improvisou um abrigo com palhas de jarina, e ali pudemos passar mais de hora esperando a chuva amainar. Com tudo isso, nos molhamos muito, pisamos em poças, descarregamo-nos ali naquelas matas. À noite, já em casa, todos dormiram como uns anjinhos do Domingo de Páscoa.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Apaguem as luzes!

Sábado é dia de apagar as luzes. Das 20:30 hs às 21:30 hs a ordem é ficar no escuro. E você não estará sozinho. Se tudo der certo cerca de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo estarão fazendo a mesma coisa que você. Já imaginou: todo mundo experimentando aquela sensação de "apagou a luz"...

Trata-se da Hora do Planeta. No escuro, com tudo quieto, o convite é para a reflexão sobre para onde estamos levando a nossa nave, o nosso planeta amado, com tudo o que estamos promovendo nele num insensato clima de fim-de-festa.

Uma hora no escuro, dá pra fazer bastante coisa: dormir, rezar, meditar, cantar, pensar na vida, namorar - mas talvez o melhor mesmo seja mentalizar no nosso planeta azul, sofrido e insistentemente generoso, lindo e judiado, forte e frágil, encantador e assustador. Com tudo, é um bom lugar pra se viver. O convite é para cuidarmos bem de casa, fazer o dever de casa, ou sermos boas/bons donas(os) de casa.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Mais um amigo por perto

No mês de fevereiro, com a cara e a coragem de seus 12 anos recém-completados, chegou ao Acre o João Manuel Tuin (em primeiro plano na foto acima). Veio pra morar, junto com os pais Bia Saldanha e Marcelo Piedrafita. Era aguardada a chegada desta família, em especial pelos seus amigos, irmãos, compadres e comadres. Depois de muitas providências e ginásticas física, emocional e mental, a família finalmente decolou do Rio e aportou na nossa cidade, de muda, como se diz.

Mas quero destacar hoje aqui o João Manuel porque, além dele ter feito aniversário no último dia 17, comemorado com os sushis e sashimis que ele tanto adora, este bravo guerreiro está dando prova de grande versatilidade. Imagine: o João é acriano de nascimento, mas cresceu no Rio, lá fez sua turma, galera, programas e vida social. Boa pinta e simpático, é cheio de amigos, acho que até namorada. Praia, surf, skate. Mas aí os pais resolvem voltar para o Acre. O que resta a uma criança, mesmo que quase adolescente? Vir junto - fazer o que?

O João deve ter esperneado, afinal, como disse, o cara é bom lutador. Mas por isso mesmo, por todo guerreiro reconhecer que é melhor ser como o bambu, ceder, para depois ganhar terreno e força (e não ser rígido como um cumaru e correr o risco de se quebrar numa tempestade), João obedeceu ao tempo das coisas e veio. Chegou e já está estudando no Meta - e gostando da escola, segundo me falou. Está morando numa chácara e curtindo pescar tambaquis. Sua maior aventura atual, e da família junto, é Zico, um bebê-cachorro (popular "salsicha" ou "cofap") que precisa de atenção e por vezes deixa todos sem saber o que fazer, e disputando de quem será a vez de limpar o xixi ou o cocô do bichinho (pois é, cachorro é bom mas tem este ladinho meio chato... que depois passa!).

Como disseram seus pais: dos três, João é o que está se saindo melhor nesses tempos de aterrisagem, onde tudo ainda está se acomodando e a rotina, aquela senhora tranquilizadora, ainda não se instaurou (pra ser quebrada, é claro). Bem-vindo, João, estou muito feliz com sua chegada e de seus pais - que sejam tempos auspiciosos e gravem em você uma boa memória desta tua terra coberta de florestas.