terça-feira, 12 de abril de 2011

Manejo da pesca e a "psicultura"

O texto abaixo me chegou por email, vindo o Marcelo Apel, educador popular que conheci nos anos 80, quando ele morava no Paraná. Depois o Marcelo andou. Foi pro Maranhão e de lá começou sua peregrinação amazônica, passando pelo Pará, Amapá, e chegou ao Acre, sempre trabalhando com pescadores familiares em projetos de manejo comunitário, organização de associações e outras coisas mais. Ele ainda é pai da Enaiê, que é minha aluna na Ufac, uma querida, opinião compartilhada também pelo Wilian, que também é meu aluno e namorado dela. Pois bem, o Marcelo enviou um texto contando sobre o manejo comunitário de Pirarucu aqui no Acre, como a coisa andou e como está a andar. Tomei a liberdade de fazer uma pequena edição. Vale ler, é tão difícil chegar informação mais de dentro desses projetos e de quem conhece o babado e tem compromisso.

Sim? Não? Talvez? Por quê?

O Manejo da Pesca e do Pirarucu vai continuar...

e a pesca? e os pescadores? ah sim, e os peixes? pois sem peixe não tem pesca e sem pesca não tem pescador... e o peixe se está acabando...

“é mas o que Deus deu não se acaba... não se acaba, mas fica pouco, num é mermo? bem pouquinho, quase um nadinha”...

é assim que estava (e está) a pesca nas cabeceiras... e aí faz o que? discute com os pescadores e com os ribeirinhos, pesquisa, investiga, propõe, escreve um projeto...

a pesca só, não acaba com os peixes, a devastação florestal é muito mais prejudicial, assoreia rios, igarapés lagos, e diminui a alimentação dos peixes e locais de desova e refúgio, diminui a água... aí trabalha, trabalha, trabalha... e depois de algum tempo avalia, revê, repensa, reescreve, aprende... e trabalha de novo e a coisa começa aparecer... é possível fazer alguma coisa... os resultados mostram...

mais de 440 famílias de ribeirinhos e pescadores se envolveram e acreditaram que é possível...

e a coisa tem que ser de “acordo” senão, não vai... então, embora fazer um “Acordo de Pesca”...

e foram feitos 5 acordos em 13 lagos, com 32 comunidades e 3 Colônias de Pescadores... incluindo aí duas comunidades indígenas Huni Kuî... e isso é gente bastante, assim umas 2200 pessoas... uns 1500 eleitores...

nesse meio tempo... um peixe grande cruza o caminho... “é prá pirar”... é pirarucu...

e põe grande nisso, 2,70 metros e maior ainda 2,80 metros... e nem é mentira de pescador, não... em três anos dá um salto de produtividade... de 56 para 187, só no lago Santo Antonio...

gente, dá mais que criar boi... temos até 9 pirarucu por hectare de água... adulto chega a 5...

e, boi é quantos mermo? Maninho, nem chega a dois... ôôô desperdício de floresta...

começou num lago só... criança também começa pequena... é mais fácil de controlar e conforme vai crescendo a gente vai aprendendo... aí passou para dois lagos, três... e agora já são 10 em Manoel Urbano e Feijó... e dá para trabalhar também com este senhor em Tarauacá, Cruzeiro, Rodrigues Alves, Plácido, Santa Rosa... onde tiver lago...

mas esse bicho come muito, acaba com as piabas e os pescadores vão pescar o que?

diz os entendido (de nada) que um pirarucu come até 3000 branquinha/mocinha por ano, é muito peixe... mas um pirarucu desova por ano até 5000 filhos, é muito peixe... só chega a crescer e ficar adulto uns 40 a 50... e os outros? viraram comida de peixe e de outros bicho... a natureza é sábia e nós não “aprende” com ela... num lago tem que ter de tudo desde peixe que come lodo, que come fruta, que come capim até peixe que come outros peixes... ou alguma coisa está desequilibrada... até peixe que morre de velho, mas isso é história de pescador.

é mas tem que se organizar, e tem que ter gente pra trabalhar, e tem que ter dinheiro, e tem que ter pesquisa...

aí a parceria é importante... e bota comunidades, e bota Colônias de Pescadores, e bota IBAMA, e SEMA, e IMAC, e UFAC, e MPA, e WWF, e MDA, e SEAP, e Aldeias, e Prefeituras, e PM, e Sindicatos de Trabalhadores Rurais, e Associação das Comunidades, e Igrejas, e ONG’s... e a SEAPROF puxando a coisa toda, aí a coisa cresceu, engrandeceu e andou, e não parou...

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e melhorou o que para os pescadores e comunitários?

com o pirarucu os pescadores passaram a ter mais uma fonte de renda... antes não existia pirarucu ou tinha bem pouquinho... são pelo menos R$ 800,00 - em mais ou menos um mês de trabalho por ano...

os lagos com acordos de pesca melhoraram?

nas pesquisas e monitoramentos realizados se pode ver que após os acordos os lagos produziram mais. Antes do acordo nos lagos um pescador que pescava em média até 168 kg passou a pescar até 227 kg, depois do acordo. Um aumento de 35 %... pouco, diriam alguns... com certeza é necessário monitorar de forma mais freqüente para ter mais segurança das informações... mas um grande avanço dentro de uma visão de que a quantidade de pescado estava diminuindo...

conseguir manter a quantidade de pescado igual já teria sido bom, ter aumentado “é muito mais bom”, ainda...

e tem um monte de gente que pesca só para comer e o que, que eles dizem:

“ficou melhor, aumentou o peixe; tem mais quantidade de peixe e a qualidade é melhor; ainda tem gente que não cumpre o acordo; diminuiu a pesca irregular”...

e olha que este povo de beira de rio e de lago come peixe... no Acre dependendo do lugar vai de 14, passando por 49 até 78 quilos de pescado por pessoa por ano... a média do Brasil é de 5,8 quilos de pescado por pessoa por ano... saúde e segurança alimentar com certeza... em média 125 gramas diários de pescado é preciso manter essa quantidade...

mas e agora??? desde janeiro acabou-se este trabalho?

só se houve falar de piscicultura... e grandes somas – Governo do Estado diz R$ 40 milhões, BASA fala em (mais?) R$ 60 milhões...

10% disso já seria um bom começo para manter o trabalho de manejo da pesca... assim uns R$ 4 milhões, mas se tiver a metade (não vou diminuir mais, não) nos próximos 4 anos dá para continuar e aumentar muito o trabalho... aprender mais, pois cada lago é cada lago e cada pescador e ribeirinho, e cada comunidade e Colônia de Pescadores é um mundo... e os resultados virão...

teremos mais luz e mais felicidade...

meio japiim

Aquiry, abril 2011